O QUE É O AUTISMO OU TEA, TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA? VÁRIOS DADOS PARA DIAGNOSTICAR E COMPRENDER ESSA COMPLEXA CONDIÇÃO HUMANA

 

criança autista no balanço (Foto: Thinkstock)
  • LUIZA TENENTE
 ATUALIZADO EM 

Cada criança é uma criança. A frase pode parecer simples, mas é vital para entender o autismo. Se o seu filho receber o diagnóstico, não necessariamente vai apresentar todos os sintomas já descritos por outros pacientes. Por ser um distúrbio com diferentes níveis de comprometimento, recebe o nome de “espectro autista” – para entender melhor, imagine um dégradé, que vai de cores muito escuras, em que se encontram os casos mais graves, até os tons mais claros.


Quais são os primeiros sinais de autismo?
Apesar de os sinais do transtorno variarem, há três comprometimentos que são considerados mais comuns. O primeiro é na interação social, ou seja, no modo de se relacionar com outras crianças, adultos ou com o meio ambiente. “Uma das teorias que explica esse comportamento afirma que o autista tem dificuldade de entender o outro e de se colocar no lugar de alguém. Não compreende sentimentos e vontades, por isso se isola”, afirma Daniel Sousa Filho, psiquiatra da infância e da adolescência (SP).


Quais são os primeiros sinais do autismo? (Foto: Thinkstock)

Quais são os primeiros sinais do autismo? (Foto: Thinkstock)


O segundo sintoma recorrente é a dificuldade na comunicação: há crianças que não desenvolvem a fala e outras que têm ecolalia (fala repetitiva). Como terceiro sinal, há a questão comportamental: as ações podem ser estereotipadas, repetitivas. Qualquer mudança na rotina passa a ser incômoda para a criança. Imagine que a mãe sempre vá buscar o filho na escola. Certo dia, é o avô quem vai pegá-la no colégio – e altera a rota de sempre. Pode ser que ela, diante dessa mudança, fique agitada e grite, por exemplo. Isso acontece porque a rotina é um “mapa” usado pelo autista para reconhecer o mundo. Se algum traço desse caminho for alterado, a criança vai reagir.


Os sintomas variam
Vale lembrar que, além desses sinais, há outros que podem se manifestar em algumas pessoas com o espectro autista, não em todas, claro. Os surtos nervosos, por exemplo, podem vir acompanhados de automutilação e agressão. Para entender melhor, imagine que você esteja com a blusa apertada ou com muita fome, mas não consiga falar o que sente. Se a criança tiver dificuldade na expressão verbal, pode tentar se comunicar corporalmente e ter seu pedido atendido.

Hiper ou hiposensibilidade também podem se manifestar de forma diferente nos cinco sentidos da criança que se enquadra no espectro autista. Por exemplo: na audição, ela pode se sentir incomodada em locais barulhentos ou ter afinidade com alguns sons. No paladar, ela não tolera determinados sabores – por isso, insiste em comer sempre os mesmos alimentos. E nos dias frios, enquanto você usa um casaco pesado, a criança pode dispensá-lo – a hiposensibilidade tátil faz com que ela não tenha a mesma sensação de temperatura que as demais. Quando se machuca, talvez não sinta dor, por exemplo.


O espectro autista pode vir acompanhado de deficiência intelectual. Há casos, no entanto, em que a criança apresenta alto funcionamento – ou seja, é capaz de memorizar a lista telefônica inteira, mas não entende qual a utilidade dos números, por exemplo. Na síndrome de Asperger, outro quadro do espectro, a pessoa pode não ter problemas no desenvolvimento da linguagem. Ela se interessa por assuntos específicos: sabe tudo sobre dinossauros ou avião e se restringe a só a um tema.

Autismo (Foto: Ashleigh Raddatz)

Autismo (Foto: Ashleigh Raddatz)



Dificuldades no diagnóstico de autismo
Uma estimativa feita em 2016, cujos resultados acabaram de ser divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, mostrou que 1 em cada 54 crianças são diagnosticadas com autismo no país. No entanto, o diagnóstico não é tão simples assim. Isso porque não há um exame específico que indique o transtorno – a avaliação deve ser clínica e feita por uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. É comum, ainda, que os sintomas sejam confundidos com  surdez (já que a criança não responde aos estímulos), deficiência intelectual e problemas de linguagem.


Por isso, mediante qualquer desconfiança sobre desenvolvimento do seu filho, procure um especialista. “Quanto mais precoce começar as intervenções, melhor o prognóstico. É importante procurar as terapias adequadas o quanto antes, porque o sistema nervoso poderá responder aos estímulos rapidamente”, explica o neurologista infantil Antônio Carlos de Faria, do Hospital Pequeno Príncipe (PR). 

Com que idade dá para detectar o autismo?
É claro que os sinais ficarão mais nítidos após os 3 anos, mas alguns indicativos desde bebê podem servir como alerta, como a criança ficar parada no berço, sem reagir aos estímulos, e evitar o contato visual. Antes do primeiro ano de vida, está sempre irritada – você o amamenta ou conversa com ela, mas continua agitada. Por volta dos 8 meses, o bebê não interage com o meio ambiente: vê um cachorro ou gato na rua e fica indiferente. Sabe aquela brincadeira em que a mãe se esconde e diz “achou!”? O bebê não esboça nenhuma reação. Na hora de brincar é comum que crianças autistas se interessem apenas por uma parte do brinquedo - elas podem ficar girando a roda de um carrinho por um tempo prolongado, em vez de arrastá-lo.

Há casos, ainda, em que há regressão: a criança se desenvolve bem até 1 ano e meio. Depois dessa idade, para de sorrir ou de se comunicar, por exemplo.

Existe tratamento?
Ainda não há um medicamento específico para o autismo. De 0 a 2 anos, a criança deve ser acompanhada por um fonoaudiólogo para que ele ajude-a a desenvolver a linguagem não-verbal. A estimulação pode ser feita com brincadeiras e jogos, contação de histórias e conversa. Conhecer o novo também é importante: o especialista apresenta uma maçã para que ela toque na fruta, conheça sua textura e seu cheiro. Aos poucos, ela pode aprender a entender a expressão facial dos outros. A linguagem verbal (como a fala) virá depois. As terapias ocupacional e comportamental também são relevantes no tratamento, para que o cérebro passe a perceber os estímulos sensoriais. “Esse tipo de intervenção precoce pode evitar o comportamento repetitivo, por exemplo”, afirma o neurologista.

Não há uma regra para todas as crianças. A equipe multidisciplinar decidirá qual o acompanhamento pedagógico e terapêutico mais indicado e vai discutir sobre a educação delas, junto com os pais. “Cada caso é um caso. Em geral, quando se tem a comunicação verbal desenvolvida, ir para a escola regular é uma ótima opção. Mas, se a pessoa for agressiva e tiver deficiência intelectual grave, a escola especial pode ser mais indicada”, afirma o psiquiatra Daniel. Portanto, é essencial respeitar a individualidade delas. Mas é importante saber: nenhuma instituição de ensino, pública ou privada, pode recusar a matrícula.

E não são só os meninos e meninas que devem ser acompanhados por especialistas. Receber o diagnóstico e acompanhar o ritmo do tratamento pode ser desgastante para a família. Por isso, os pais podem ser tratados e orientados por um psicólogo, que tentará diminuir a ansiedade e o estresse. Como costumam se dedicar ao extremo ao filho com autismo, o irmão pode se sentir preterido. Não se culpe, caso isso ocorra. O terapeuta conseguirá sugerir uma solução para que todos se sintam amados – como realmente são!

Diante do diagnóstico, é comum que alguns pais da criança procurem tratamentos alternativos, que não têm comprovação científica, para amenizar os sintomas. Um estudo publicado no Journal of Developmental & Behaviour Pediatrics analisou 600 crianças, de 2 a 5 anos – sendo 453 com autismo e 125 com problemas de desenvolvimento. Os cientistas descobriram que 40% delas usavam remédios homeopáticos, melatonina ou terapias complementares, como meditação ou ioga - 10% a mais do que as crianças sem o transtorno ou outra dificuldade no desenvolvimento.

Isso é prejudicial? “Não há problema em tentar, apesar de não haver a certeza na melhora do quadro. Depende da reação de cada criança: para algumas, certas terapias funcionam”, explica Alysson Muotri, biólogo brasileiro que pesquisa a cura do autismo na Universidade da Califórnia (EUA).

Autismo tem cura?
A causa do autismo ainda é estudada pelos cientistas. Muitos genes que indicam o transtorno já foram identificados – mas ainda não podem ser detectados por exames que façam o diagnóstico. “O que sabemos, atualmente, é que há uma mistura entre influências genéticas e ambientais”, diz o psiquiatra. Infecções pós-parto, tumores, causas endocrinológicas e metabólicas já foram associadas à causa do autismo – mas ainda são especulações.

Recentemente, mais uma hipótese foi levantada pelos cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), em estudo publicado no periódico New England Journal of Medicine. Eles exploraram a arquitetura física do córtex humano (camada superficial do cérebro) de 11 crianças com autismo e 11 sem o transtorno, na faixa etária de 2 a 15 anos. Ao examinar essa parte do cérebro, perceberam que as crianças autistas tinham falhas  justamente em áreas que são responsáveis por funções comprometidas pelo transtorno – como comunicação e interpretação social.

A desorganização foi notada em 10 dos 11 pacientes com autismo e apenas em 1 dos 11 sem o transtorno. “Pelo número pequeno de cérebros analisados, o estudo é considerado exploratório. Mas, aparentemente, a maioria das falhas foi originada durante a gestação, durante a migração das células que formariam as camadas do córtex”, explica Muotri. Ainda não se sabe qual é a causa dessa falha que acontece no segundo trimestre de gestação, quando a estrutura é formada. Especialistas acreditam que possa ser decorrência do ambiente uterino, do código genético ou uma mistura de ambos os fatores.

Os estudos que tentam descobrir a cura do autismo, dirigidos por Muotri, representam a esperança para as famílias. O biólogo usa uma técnica que transforma células de pessoas adultas em células-tronco embrionárias, ou seja, que ainda não são especializadas. Depois disso, é possível fazê-las se desenvolverem novamente e diferenciá-las em células cerebrais. Como elas tiveram origem em um indivíduo que já estava diagnosticado com um problema, é possível simular no laboratório o funcionamento dos neurônios daquele paciente em comparação com uma pessoa sem o transtorno.

A partir dessas comparações, já se conseguiu identificar uma série de diferenças na estrutura dos neurônios e como essas células respondem em conjunto (o que ajuda a entender como funciona o cérebro desses pacientes). A maior parte das pesquisas está sendo feita com portadores da síndrome de Rett, que também faz parte do espectro autista.

Muotri reforça que o estudo exige cuidado. “Nos próximos dois anos, iniciaremos a fase prática da pesquisa. Começaremos testando o tratamento em adultos que não sejam autistas, para analisar os possíveis efeitos dele”, conta.

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2014/04/o-que-e-autismo.html?

  • CRESCER ONLINE
 ATUALIZADO EM 

Bebês com transtorno do espectro autista (TEA) têm diferenças no cérebro que podem ser identificadas ainda no útero, sugere estudo da Universidade de Harvard (Estados Unidos) publicado nesta terça-feira (5). Os pesquisadores analisaram exames de ressonância magnética realizados em 39 bebês durante a gestação – nove deles diagnosticados com autismo durante a infância – e concluíram que os pequenos com TEA tinham o lobo da ínsula maior que o de crianças neurotípicas.

barriga_aluguel (Foto: shutterstock)

Barriga de grávida (Foto: shutterstock)

Essa área do cérebro é uma das envolvidas na supervisão do comportamento social e da tomada de decisões, duas coisas com as quais muitas pessoas autistas têm dificuldade para lidar. As descobertas sugerem que um lobo da ínsula maior do que o comum é um biomarcador “forte” para prever durante a gestação quais bebês desenvolverão autismo no futuro.

Os exames nos pequenos com autismo também apresentaram, em comparação com os outros participante do estudo, uma amígdala cerebral maior (área envolvida no processamento de emoções) e um aumento do hipocampo (região necessária para memória e aprendizado). As alterações, porém, não foram tão significativas quanto as verificadas no lobo da ínsula.

De acordo com os pesquisadores, os resultados estão alinhados com outros estudos recentes, que detectaram diferenças em algumas partes do cérebro de adultos com autismo. Em nota, a médica radiologista Alpen Ortug, principal autora do estudo, ressalta que a descoberta pode ajudar a identificar os primeiros sinais de anormalidades cerebrais em pacientes com autismo, ajudando a esclarecer os "muitos fatores genéticos e ambientais por trás do transtorno". A autora destaca, ainda, que a detecção precoce do autismo significa um melhor tratamento.

A ciência ainda não conhece exatamente todos os fatores que levam ao autismo, mas já está provado que ele envolve fatores genéticos e ambientais. Estudos sugerem que o transtorno é mais comum em filhos de pais mais velhos, assim como em mães que estão acima do peso ou sofrem complicações na gravidez. As crianças afetadas podem ter um interesse intenso por tópicos específicos, além de dificuldades para estabelecer contato visual e entender como os outros se sentem.

Cerca de uma em cada 44 crianças se enquadra no espectro, de acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Atualmente, o diagnóstico só pode ser realizado a partir de 18 meses.

Palavra de especialista

De acordo com Clay Brites, pediatra, neurologista infantil e um dos fundadores do Instituto NeuroSaber (PR), o estudo tem "boa qualidade técnica" e utiliza parâmetros de neuroimagem, mas ainda é muito cedo para demonstrar que esse tipo de alteração anatômica vista nos exames seja um preditor de autismo. "A pesquisa trabalhou com um grupo muito pequeno e não se deve extrapolar seus resultados para a população em geral", explica.

"Atualmente, ainda é impossível diagnosticar uma criança com autismo sem avaliá-la no ambiente natural depois do parto. A vigilância para sintomas de autismo nos primeiros 18 meses deve ser feita independentemente dos exames pré-natais e esse rastreio já é considerado eficiente. Exames de imagem nos ajudam a entender quais áreas do cérebro são mais afetadas em uma criança com autismo, mas ainda não é possível determinar se um dia eles terão relevância para o diagnóstico do transtorno", acrescentou o especialista.

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2022/04/autismo-bebes-com-o-transtorno-tem-diferencas-no-cerebro-que-podem-ser-identificadas-ainda-no-utero-sugere-estudo.html
  • CRESCER ONLINE
 ATUALIZADO EM 
Tubos para exame de sangue (Foto: Thinkstock)

Tubos para exame de sangue (Foto: Thinkstock)

Pesquisadores da Universidade britânica de Warwick desenvolveram um novo teste de sangue que promete detectar espectro autista com um nível de precisão de 92%. Publicado recentemente na revista Molecular Autism, o teste é considerado pioneiro e os cientistas esperam que com o diagnóstico precoce, as crianças recebam atenção e cuidados adequados mais cedo.

“Nossa descoberta pode levar a um diagnóstico e intervenção mais precoces. Esperamos que os testes também apontem caminhos para novas causas”, disse ao Medical News Today uma das líderes do estudo, Naila Rabbani, da Universidade de Warwick.

O teste

Para o desenvolvimento do exame, os pesquisadores coletaram e analisaram amostras de sangue e urina de 38 crianças com idade entre 5 e 12 anos, que haviam sido diagnosticadas com o distúrbio, bem como de 31 crianças que não tinham o diagnóstico.

Os resultados mostraram que as crianças com espectro autista apresentaram níveis mais altos de uma substância chamada ditrosina de oxidação (DT) e de outra classe de compostos, modificados com açúcar, conhecidos como produtos finais de glicação avançada (AGEs).

A partir disso, os cientistas, então, usaram esta informação em um algoritmo de computador, resultando em um teste de diagnóstico com 92% de sensibilidade.

Espectro autista

espectro autista é um distúrbio com diferentes níveis de comprometimento, porém três são considerados mais comuns: alterações na fala, comunicação social e comportamentos restritos ou estereotipados.

Causado por fatores genéticos e ambientais, sendo este último predominante, o distúrbio possui diagnóstico difícil. Dessa forma, um exame que possibilite descoberta precoce é considerado um avanço, mas, para Alysson Muotri, do Departamento de Pediatria e Medicina Molecular, da Universidade da Califórnia em San Diego, deve ser visto com algumas ressalvas.


“O diagnóstico é clínico e costuma demorar porque os sintomas podem ser mascarados por atrasos no desenvolvimento, desinformação, inexperiência clínica, resistência dos pais e pela variabilidade da intensidade dos sintomas (...). Apesar de interessante, o trabalho é apenas um primeiro passo na busca de um biomarcador”, explica Muotri. O especialista ainda adverte que o número de crianças no estudo é baixo e que muito possivelmente, em uma cobertura maior, o teste irá apresentar um percentual de falso-positivos muito grande. "Isso acontece por conta da heterogeneidade do transtorno. É difícil acreditar também que um único tipo de exame consiga detectar os diversos tipos de autismo que existem”, explica Muotri.

Outra crítica feita por diversos especialistas ao exame da Universidade de Warwick é que a análise foi derivada de crianças com idades entre 7 e 8 anos. Porém, a terapia precoce (nos primeiros dois anos) tem um efeito maior na qualidade de vida e independência do indivíduo. No que diz respeito a isso, contudo, os pesquisadores  já sinalizaram que pretendem repetir o estudo com outros grupos de crianças para apurar a eficiência do teste.

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2018/02/novo-teste-de-sangue-promete-detectar-espectro-autista-com-92-de-precisao.html

  • CRESCER ONLINE
 ATUALIZADO EM 
Alimentação atípica pode ser sinal de autismo (Foto: Pexels)

Alimentação atípica pode ser sinal de autismo (Foto: Pexels)

Ta aí algo que os pais costumam conhecer bem em seus filhos: hábitos alimentares. Algumas crianças comem todo e qualquer alimento. Já outras, são seletivas e a hora da refeição é uma verdadeira batalha. No entanto, um novo estudo da Penn State College of Medicine, nos Estados Unidos, afirma que a forma como as crianças se comportam diante da comida pode revelar muito sobre elas, inclusive ser um sinal de alerta em relação ao autismo.

Os pesquisadores avaliaram os comportamentos alimentares em entrevistas com pais de mais de 2 mil crianças. Eles investigaram a diferença na frequência de comportamentos alimentares incomuns entre crianças típicas e aquelas com autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e outras desordens. O estudo descobriu, portanto, que comportamentos alimentares atípicos estavam presentes em 70% das crianças com autismo — o que é 15 vezes mais comum do que em crianças neurotípicas. 

De acordo com a professora de psiquiatria Susan Mayes, esses comportamentos são frequentes, principalmente, em bebês de 1 ano e incluem: ter uma alimentação muito limitada, ou seja, preferência por pouquíssimos alimentos, hipersensibilidade às texturas ou temperaturas e manter os alimentos na boca, sem engolir. "Se um provedor de cuidados primários ouvir sobre esses comportamentos dos pais, eles devem considerar encaminhar a criança para uma triagem de autismo", alerta a pesquisadora.

RESISTÊNCIA A NOVOS ALIMENTOS

"Uma vez eu tratei uma criança que não comeu nada além de bacon e bebeu apenas chá gelado. Dietas incomuns como estas não sustentam crianças", afirma Keith Williams, diretora do Programa de Alimentação do Penn State Children's Hospital. Para ela, identificar e corrigir esses comportamentos pode ajudar a garantir que as crianças estejam fazendo uma dieta adequada.

No entanto, Keith chama atenção para uma diferença marcante: a maioria das crianças sem necessidades especiais irá lentamente adicionar alimentos às suas dietas durante o desenvolvimento, mas as crianças com transtornos do espectro do autismo, sem intervenção, geralmente permanecerão comedores seletivos. "Nós vemos crianças que continuam a comer comida para bebês ou que não experimentam texturas diferentes. Até vemos crianças que não conseguem fazer a transição da mamadeira", pontua., explicando que como as crianças com autismo têm hipersensibilidades sensoriais e não gostam de mudanças, elas podem não querer experimentar novos alimentos e serão sensíveis a certas texturas. Frequentemente comem apenas alimentos de determinada marca, cor ou forma.

Para Susan, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais rápidamente a criança pode começar o tratamento com um analista do comportamento. Estudos anteriores mostraram que a análise comportamental aplicada é mais eficaz se implementada durante os anos pré-escolares, já que são utilizadas uma série de intervenções, incluindo recompensas, para fazer mudanças positivas no comportamento e ensinar habilidades necessárias. "Este estudo forneceu mais evidências de que esses comportamentos alimentares incomuns são a regra e não a exceção para crianças com autismo", finaliza Keith.

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/criancas/saude/noticia/2023/04/10-informacoes-sobre-autismo-que-voce-precisa-saber.ghtml

  • MARCELA BOURROUL
 ATUALIZADO EM 
Patrícia Brandão, Alysson Muotri e Berenice Piana durante palestra no Instituto de Psiquiatria da USP (Foto: Marcela Bourroul/ Crescer)

Patrícia Beltrão, Alysson Muotri e Berenice Piana durante palestra no Instituto de Psiquiatria da USP (Foto: Marcela Bourroul/ Crescer)

Neste sábado (29), o biólogo Alysson Muotri, uma das maiores referências mundiais em pesquisas sobre autismo, esteve em São Paulo, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, para falar sobre as pesquisas que está desenvolvendo em seu centro de estudos na Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA). A palestra - destinada a pais e mães e com apoio da CRESCER - contou ainda com a professora da USP Patrícia Beltrão Braga, que está à frente de uma pesquisa sobre autismo na Universidade, e teve abertura de Berenice Piana, cuja lei que leva o seu nome foi sancionada em dezembro de 2012, concedendo ao autista os direitos legais de todos os indivíduos com deficiência.

No evento, Muotri explicou como usa a tecnologia de células-tronco para entender o funcionamento dos neurônios de pessoas diagnosticadas com transtornos relacionados ao espectro autista.

Em seu centro de estudos, ele usa uma técnica que transforma células de pessoas adultas em células-tronco embrionárias, ou seja, células que ainda não são especializadas. Depois disso, é possível fazê-las se desenvolver novamente e diferenciá-las em células cerebrais. Como essas células tiveram origem em um indivíduo que já estava diagnosticado com um problema, é possível simular no laboratório o funcionamento dos neurônios daquele paciente em comparação com uma pessoa saudável.

A partir dessas comparações, o grupo de estudo de Muotri já conseguiu identificar uma série de diferenças na estrutura dos neurônios e como essas células respondem em conjunto (o que ajuda a entender como funciona o cérebro desses pacientes). A maior parte das pesquisas está sendo feita com portadores da Síndrome de Rett, que faz parte do espectro autista.

Outra vantagem de ter essas células em laboratório é a possibilidade de testar drogas sem precisar de voluntários num primeiro momento. Isto é, os cientistas conseguem observar a reação das células e de diversas moléculas que podem se transformar em remédios eficazes. Claro que depois do teste em laboratório é necessário fazer os testes clínicos, mas a técnica pode reduzir os custos desse processo. Por enquanto, nenhum medicamento foi validado por meio desse procedimento, até porque ele ainda é muito novo, mas é uma aposta dos pesquisadores.

Um grande número famílias enxerga no pesquisador a possibilidade de encontrar a cura para seus filhos. No entanto, durante a palestra, ele fez questão de esclarecer que ainda serão necessárias muitas pesquisas clínicas e laboratoriais para atingir esse sonho.

Outra novidade trazida pelo biólogo é que, como nos Estados Unidos já há grupos de estudo voltados para o autismo há quase uma década, também está sendo possível fazer pesquisas avaliando o histórico dos pacientes. A partir daí, há cientistas que buscam entender qual a diferença entre aqueles que evoluíram bem após alguns tratamentos e aqueles que quase não apresentaram melhoras.

Incentivo para a pesquisa nacional

A vinda de Muotri ao Brasil, no entanto, teve ainda outro objetivo. Na última quinta-feira (27), o cientista se reuniu com o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e alguns representantes da sociedade civil para propor a criação de um centro de excelência para estudos do autismo. O projeto surgiu por conta de seu interesse nessa área e do contato com pais brasileiros e pesquisadores.

A proposta é que o governo federal invista inicialmente 100 milhões de dólares para a criação de um centro onde seja possível realizar pesquisas, ensaios clínicos e testar possbilidades de tratamento. Segundo Muotri, o Brasil tem a possibilidade de sair à frente nessa área. Aqui já estão sendo desenvolvidos projetos em consonância com sua linha de pesquisa, como o Fada do Dente, coordenado pela professora da USP Patrícia Beltrão Braga, uma iniciativa inédita na América Latina.

O governo ainda não deu nenhum sinal de que colocará o projeto em prática, mas a conversa desta semana pode ter sido o pontapé inicial para uma nova realidade das pesquisas sobre o transtorno do espectro autista no país. Sobre cura ainda é difícil falar, mas como bem disse Muotri durante a palestra, citando Bill Gates: “Sempre superestimamos as mudanças que vão acontecer nos próximos dois anos e subestimamos as mudanças que acontecerão nos próximos dez. Não se deixe adormecer pela inércia.”

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2013/06/autismo-uma-nova-fronteira-para-pesquisas.html

  • GABRIELA CUPANI, DA AGÊNCIA EINSTEIN
 ATUALIZADO EM 

Quanto antes o autista souber da sua condição, melhor. Isso é o que acaba de revelar um estudo inédito, que investigou o impacto do momento em que a pessoa recebe seu diagnóstico no bem-estar futuro. A análise mostrou que conhecer a própria situação em uma idade mais jovem leva a mais qualidade de vida na fase adulta.

No caso das crianças, conversar cedo sobre o assunto pode ajudá-las a se entender melhor e a encontrar mais apoio. A pesquisa, publicada no periódico científico Autism, avaliou 78 estudantes universitários portadores do transtorno que falaram sobre como souberam do diagnóstico, como lidaram com isso e como se sentiam sobre suas vidas atualmente.

Menino com autismo (Foto: Mikhail Nilov/Pexels)

(Foto: Mikhail Nilov/Pexels)

O transtorno do espectro autista envolve várias condições que afetam o desenvolvimento neurológico e tem diversas gradações. É caracterizado por dificuldades de comunicação, de interação social, padrões de comportamento repetitivos, entre outros. Pode ser classificado como nível 1, 2 ou 3 (leve, moderado ou grave), conforme a necessidade de suporte, e é isso que vai orientar o plano terapêutico individual. Segundo dados do CDC americano (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), atinge uma em cada 44 crianças.

O problema é que como existem poucos exames específicos e o diagnóstico é essencialmente clínico, feito a partir do histórico e da observação, muitos autistas chegam à idade adulta sem saber. “Às vezes pode ser confundido com transtorno do déficit de atenção, ou se acreditar que se trata apenas de uma criança ´agitada´”, observa o neurologista Erasmo Casella, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Costuma-se associá-lo aos quadros graves, pouco funcionais, não verbais. Precisamos desmistificar esses estereótipos”, reforça a pediatra Mariana Granato, também do hospital.

Qual o momento de contar?

Após ouvir o depoimento dos voluntários, os autores sugerem que os pais não esperem os filhos se tornarem adultos para tratar do tema. Uma forma de saber o momento é quando a criança traz questionamentos sobre sua forma de ser ou sobre as dificuldades de interações com os colegas da sala. No entanto, isso deve ser feito levando em conta o nível de entendimento dela. O objetivo é que a informação a ajude a encontrar seu lugar e se reconhecer.

Mesmo aqueles que estão no nível 1 podem apresentar dificuldades de socialização e ter um pensamento muito concreto que dificulta entender ideias abstratas, ironias e piadas. Eles costumam ter um comportamento mais rígido, com dificuldade para sair da rotina, e podem ter alterações sensoriais com desconforto causado por barulhos, texturas ou sabores, por exemplo.

Por isso toda pessoa autista precisa de muito apoio, tanto da família quanto profissional, bem como entendimento da sociedade. Daí a importância de conhecer a condição o quanto antes. “Os adolescentes costumam sofrer bastante porque se sentem diferentes, podem não perceber muito o outro, ou ter fixações e falar sobre um único assunto”, diz Casella. Por isso muitas vezes sofrem bullying ou são taxados de “chatos”.

Por outro lado, o diagnóstico tardio – às vezes na idade adulta – costuma ser recebido como um alívio. “Conhecer a condição traz conforto, diminui a ansiedade”, diz Mariana.  Segundo os pesquisadores, ainda que sejam emoções difíceis de lidar, nunca é tarde demais para se entender melhor. 

  • BRUNA MENEGUEÇO
 ATUALIZADO EM 
crianca_brincando_brinquedos (Foto: Shutterstock)

Sentir o aroma de óleos essenciais, andar em superfícies texturizadas, mergulhar as mãos em água morna. Essas são apenas algumas das experiências terapêuticas que foram feitas com meninos com autismo durante um estudo feito pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

De acordo com os cientistas, crianças autistas têm problemas sensoriais, os mais comuns envolvem o cheiro e sensibilidade ao toque. Logo, ao enriquecer o ambiente, a experiência poderia ser benéfica. E realmente foi. Os resultados mostraram uma melhora acentuada em relação às terapias comportamentais tradicionais.

O estudo envolveu 28 meninos autistas, com idades entre 3 e 12 anos. Os pesquisadores dividiram as crianças em dois grupos com base na idade e na gravidade do problema. Durante seis meses, ambos os grupos fizeram a terapia comportamental padrão, mas os meninos de um dos grupos também foram submetidos a experiências terapêuticas.

Os pais dessas crianças receberam um kit que continha óleos essenciais, com aromas de maçã, lavanda, limão e baunilha, para estimular o sentido do olfato. Para fortalecer o tato, o kit continha quadrados de capacho de plástico, espuma suave, um tapete de pia de borracha, alumínio, lixa fina, feltros e esponjas, além de pedaços de carpete, piso duro, travesseiros, papelão e plástico bolha. A ideia foi criar um caminho cheio de texturas para os meninos caminharem. As crianças também receberam itens para manipular, como um cofrinho com moedas de plástico, frutas de plástico em miniatura e uma pequena vara de pesca com um gancho magnético. As crianças também mergulharam as mãos e os pés na água em diferentes temperaturas para estimular o toque da pele da criança.

Os pesquisadores orientaram que os pais das crianças realizassem duas sessões de 15 a 30 minutos por dia envolvendo diferentes combinações de estímulos sensoriais. As crianças também ouviram música clássica, uma vez por dia.

Após seis meses de tratamento, 42% das crianças do grupo da experiência terapêutica tiveram uma melhora significativa ao se relacionar com as pessoas e responder a sons e imagens, em comparação com apenas 7% do grupo de cuidados padrão. As crianças do grupo de enriquecimento também melhoraram a pontuação para a função cognitiva, que abrange aspectos de percepção e raciocínio, ao passo que a média das crianças no grupo de tratamento padrão diminuiu. Além disso, 69% dos pais no grupo de enriquecimento relataram melhora nos sintomas do autismo em geral de seus filhos, em comparação com 31% dos pais do grupo de cuidados padrão.

"Enriquecimento sensorial pode muito bem ser uma terapia eficaz para o tratamento do autismo", disse, em nota, o co-autor da pesquisa Michael Leon, professor de neurobiologia e comportamento da Universidade da Califórnia.

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Saude/noticia/2013/06/tratamento-com-cheiros-sons-e-texturas-traz-bons-resultados-contra-autismo.html


Comentários