COMO SABER SE MEU FILHO TEM AUTISMO OU TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 10 INFORMAÇÕES PARA VOCE ENTENDER O QUE É AUTISMO

 

Mayra Gaiato explica o que fazer caso suspeite que o filho é autista — Foto:  Mikhail Nilov/Pexels
Mayra Gaiato explica o que fazer caso suspeite que o filho é autista — Foto: Mikhail Nilov/Pexels

Como saber se o meu filho tem autismo?

Mayra Gaiato, especialista em autismo infantil e colunista da CRESCER, explicou quais são os primeiros passos diante de um possível diagnóstico de autismo e alertou quais sinais merecem atenção. Assista!

Por 

Mayra Gaiato

28/12/2023 14h01  Atualizado há 7 horas

 

Quando os pais desconfiam de que o desenvolvimento do filho não está indo de acordo com o esperado, logo pode surgir a dúvida: será que ele é autista? Para orientar os pais sobre o que fazer diante de um possível diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA), Mayra Gaiato, especialista em autismo infantil e colunista da CRESCER, explicou quais são os primeiros passos após a suspeita e alertou quais sinais merecem atenção.

Assista ao vídeo:

Fonte:https://revistacrescer.globo.com/colunistas/mayra-gaiato/coluna/2023/12/suspeita-que-o-seu-filho-possa-ser-autista-saiba-o-que-fazer.ghtml


Transtorno do espectro autista: 10 informações para você entender o que é autismo

Reunimos uma série de esclarecimentos sobre o transtorno do espectro autista (TEA), envolvendo os primeiros sinais, diagnóstico e direitos. Confira!

Por 

Crescer

02/04/2023 13h10  Atualizado 02/04/2024 


O último relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA divulgou um novo relatório, de 2023, apontou que o diagnóstico do transtorno do espectro autista (TEA) na infância aumentou: em 2020, a prevalência foi de uma a cada 36 crianças de 8 anos de idade, nos Estados Unidos. O estudo analisou dados de mais de 226 mil crianças americanas de 11 regiões do país, indicando que o TEA estaria presente em 2,8% da população nessa faixa etária.

O relatório de vigilância anterior, referente a 2018, havia indicado uma prevalência de TEA em 1 a cada 44 crianças nos EUA — para se ter uma ideia, nos anos 2000, essa taxa era de 1 a cada 150. Segundo o CDC, isso não significa, no entanto, um aumento percentual real no número de crianças autistas, mas, sim, maior conhecimento sobre o transtorno e melhora no processo de diagnóstico.


Apesar dos avanços científicos, a condição ainda é cercada de muitas dúvidas. Por isso, neste Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, reunimos uma série de informações que as famílias devem saber sobre o TEA, envolvendo os primeiros sinais, diagnóstico e direitos. Confira!

Em 2020, a prevalência de autismo foi de uma a cada 36 crianças de 8 anos de idade, nos Estados Unidos, apontou o CDC — Foto: Freepik
Em 2020, a prevalência de autismo foi de uma a cada 36 crianças de 8 anos de idade, nos Estados Unidos, apontou o CDC — Foto: Freepik

1. O autismo não é uma doença

TEA se caracteriza por uma série de condições que prejudicam áreas do desenvolvimento neurológico e a capacidade de interação social, comunicação e comportamento da criança, como lembra o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). Por ter diferentes níveis de comprometimento, recebe esse nome de “espectro autista” – para entender melhor, imagine um degradê, que vai de cores muito escuras, em que se encontram os casos mais graves, até os tons mais claros.

2. Cada diagnóstico envolve níveis diferentes do espectro

Ainda de acordo com Anderson Nitsche, foi só em 2013 que o termo “espectro” foi adotado para se referir ao transtorno autista. No âmbito científico, o substantivo significa uma representação de amplitudes e intensidades diversas. Algumas pessoas com TEA podem realizar todas as atividades do dia a dia, outras nem sempre. Para conduzir o tratamento e recomendar as terapias mais adequadas, o transtorno é classificado a partir de três níveis, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 (referência mundial de critérios para diagnósticos). São eles:

  • Nível 1 de suporte: exige apoio dos familiares e profissionais. Em geral, as pessoas apresentam sintomas leves, como dificuldades em situações sociais e na linguagem, comportamentos repetitivos e restritivos, ou comportamentos em excesso, como cumprimentar ou falar com pessoas desconhecidas na rua.
  • Nível 2 de suporte: exige apoio substancial. Pessoas que apresentam sintomas intermediários e um menor grau de independência. Normalmente, elas podem ter dificuldade em interações sociais, comportamentos restritivos e repetitivos, podem não fazer contato visual ou não expressar emoções, além de manter conversas curtas.
  • Nível 3 de suporte: exige necessidade de apoio substancial. Pessoas com sintomas severos, com dificuldades na comunicação e situações sociais, uso de poucas palavras e muitos comportamentos restritivos e repetitivos. Raramente iniciam alguma conversa e reagem somente a abordagens muito diretas. Além disso, costumam precisar de apoio especializado ao longo da vida.

3. A síndrome de Asperger faz parte do TEA

Ela foi detalhada pela primeira vez, em 1944, pelo pediatra austríaco Hans Asperger. No entanto, com o tempo, o termo "Asperger" foi deixando de ser utilizado. "Devido a algumas características que a síndrome compartilha com o autismo, ela foi englobada no 'Transtorno do Espectro do Autista' (TEA)", explicou a psicanalista Fatima Maria Vieira Batistelli, membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

De acordo com a mais recente atualização da Classificação Internacional de Doenças (CID), realizada em janeiro de 2022, a síndrome foi incluída nas subdivisões do TEA, e é descrita como "transtorno do espectro autista sem transtorno do desenvolvimento intelectual e sem comprometimento da linguagem funcional".

"Em comparação com pessoas com autismo prototípico, os indivíduos Asperger têm interesses intensos e enfrentam questões motoras, afetivas e adaptativas distintas. Ela provoca os mesmos sintomas do autismo clássico, mas em uma escala menor, afetando o neurodesenvolvimento, gerando dificuldade de comunicação e socialização, uso da imaginação para jogos simbólicos e padrão de comportamento restritivo e repetitivo", explicou Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).


4. Não é uma condição apenas de meninos

Estudos indicam que a proporção de diagnósticos de autismo para meninos é quatro vezes maior do que para meninas— de acordo com o último relatório do CDC, em 2020, a taxa de TEA para meninos de 8 anos foi 3,8 vezes maior do que para meninas. No entanto, uma revisão das pesquisas pode apontar sub-representação nos números por diversos aspectos sociais. Meninas podem apresentar comportamentos diferentes em comparação com meninos, levando ao mascaramento dos primeiros sinais. Foi o que apontou uma pesquisa de 2019, realizada pelo Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos. Os cientistas descobriram que meninas e meninos autistas contam histórias de maneiras diferentes, o que poderia induzir um "diagnóstico errado" nas pequenas.

Ainda segundo o CDC, em 2020, pela primeira vez a prevalência geral de TEA entre meninas de 8 anos ultrapassou 1% nas 11 regiões dos EUA que são analisadas. “O novo relatório mostrando uma prevalência superior a 1% em meninas é particularmente notável porque as pessoas costumam pensar que o transtorno do espectro autista ocorre principalmente em meninos”, disse Christine Ladd-Acosta, PhD, professora associada do Departamento de Epidemiologia da Bloomberg School e uma das principais investigadoras da rede de Monitoramento de Deficiências de Desenvolvimento e Autismo (ADDM, na sigla em inglês), no Wendy Klag Center da Bloomberg School.

A interação social e a comunicação, influenciadas por questões hormonais, às vezes são estereotipadas e merecem observação atenta de pais e familiares. Nem todo comportamento é apenas “coisa de menina” e, em conjunto com outros traços, deve ser avaliado por especialistas, recomenda o neuropediatra Anderson Nitsche.

Segundo o CDC, em 2020, pela primeira vez a prevalência geral de TEA entre meninas de 8 anos ultrapassou 1% nas 11 regiões dos EUA que são analisadas — Foto: Freepik
Segundo o CDC, em 2020, pela primeira vez a prevalência geral de TEA entre meninas de 8 anos ultrapassou 1% nas 11 regiões dos EUA que são analisadas — Foto: Freepik

5. 60% das crianças com TEA apresentam algum transtorno de fala

Os primeiros sinais de TEA são sutis e começam a aparecer ainda nos primeiros meses de vida, mas ficam mais evidentes quando os pequenos começam a demorar para aprender a falar e ficam "atrasados" em relação aos colegas da mesma idade.

No consultório da neuropediatra Ellen Manfredin, especialista em autismo e neurodesenvolvimento infantil (SP), o atraso na fala é a principal queixa das famílias. "Talvez 80% dos meus pacientes chegam até mim por esse motivo. Todo indivíduo com autismo vai ter alguma dificuldade em relação à linguagem e comunicação, mas não necessariamente em relação à fala. A criança já dá esses sinais desde bebê, mas nem sempre é fácil de perceber. Por isso, via de regra, os pais só começam a ter essa suspeita de TEA quando o atraso da fala aparece, porque ele é mais palpável", disse.

Segundo a especialista, cerca de 60% das crianças diagnosticadas com TEA vão apresentar em algum momento um transtorno de fala. "Nenhum indivíduo com autismo é igual ao outro. Vamos ver crianças que não falam nada, algumas que falam só algumas frases e outras que só emitem sons. Mas existe uma falsa ideia de que pessoas com TEA não falam. Mas a realidade não é essa, pelo contrário, existem crianças autistas que falam muito bem. Mas precisamos ver se essa fala é contextualizada e funcional. Falar bem é diferente de se comunicar bem", explicou.

Quando nos comunicamos com outras pessoas, muitas coisas estão em jogo: as palavras ditas, os gestos, os olhares trocados e as interações, por exemplo. É aí que aparecem as dificuldades das crianças diagnosticadas com TEA. Mesmo as que falam perfeitamente bem costumam ter déficits de compreensão de linguagem e demoram mais para conseguir entender metáforas, ironias…

"A fala é apenas o ato motor que possibilita a transmissão de sons, palavras e frases. A criança com TEA pode pronunciar palavras corretamente, mas de maneira muito direta e curta, sendo muito literal, repetindo expressões, usando a terceira pessoa para se referir a ela mesma, por exemplo", afirma a neurologista infantil Angélica Ávila, especialista em autismo, do Distrito Federal.

Alguns transtornos da fala costumam ser mais comuns entre crianças com TEA:

  • Ecolalia: é quando a criança repete mecanicamente barulhos, palavras ou frases que ouve, normalmente seguindo sempre um mesmo padrão de entonação de voz;
  • Dislalia: dificuldade em articular corretamente as palavras. Isso acontece porque há troca de alguns fonemas, a criança fala erroneamente as palavras, troca ou omite letras;
  • Apraxia da fala: o cérebro não consegue "transmitir o comando" para movimentos que envolvam o uso correto do uso da língua, lábios, boca e mandíbula. A criança costuma apresentar pausa longas entre os sons, tem dificuldade de falar palavras mais longas e fala expressões diferentes da mesma forma;
  • Afasia: geralmente é consequência de uma lesão cerebral e a criança perde total ou parcialmente sua capacidade de expressão;
  • Jargão: emissão de palavras soltas, que nem sempre são totalmente compreensíveis.

6. Crianças com autismo podem ter seletividade alimentar

Uma pesquisa feita pela Penn State College of Medicine, nos Estados Unidos, estimou que as crianças com autismo são 15 vezes mais propensas a terem seletividade alimentar do que as neurotípicas. Os pesquisadores avaliaram os comportamentos alimentares em entrevistas com pais de mais de 2 mil crianças. O estudo descobriu que comportamentos alimentares atípicos estavam presentes em 70% das crianças com autismo.

A diretora do Programa de Alimentação do Penn State Children's Hospital, Keith Williams, afirma que a maioria das crianças sem necessidades especiais irá lentamente adicionar alimentos às suas dietas durante o desenvolvimento, mas as crianças com TEA, sem intervenção, geralmente permanecerão comedores seletivos. "Nós vemos crianças que continuam a comer comida para bebês ou que não experimentam texturas diferentes. Até vemos crianças que não conseguem fazer a transição da mamadeira", pontuou.

Como as crianças com autismo têm hipersensibilidades sensoriais e não gostam de mudanças, frequentemente comem apenas alimentos de determinada marca, cor ou forma. Segundo Virgínia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da SBP, é fundamental um acompanhamento com o pediatra nutrólogo e entender que não existem receitas milagrosas para o pequeno comer melhor. “Convidá-las para ajudar a comprar e preparar a comida é uma boa, para que, aos poucos, se dessensibilizem e se abram a novas possibilidades”, recomendou a especialista.

7. Planos de saúde devem cobrir tratamentos para TEA

No ano passado, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou a Resolução Normativa 539/2022, que amplia as regras de cobertura para usuários de planos de saúde com transtornos globais do desenvolvimentoentre os quais está incluído o transtorno do espectro autista. Portanto, desde 1º de julho de 2022, passou a ser obrigatória a cobertura para qualquer método ou técnica indicado pelo médico assistente para o tratamento do paciente que tenha um dos transtornos enquadrados na CID F84, conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID), que inclui:

  • Autismo infantil (CID 10 – F84.0)
  • Autismo atípico (CID 10 – F84.1)
  • Síndrome de Rett (CID 10 – F84.2)
  • Outro transtorno desintegrativo da infância (CID 10 – F84.3)
  • Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados (CID 10 – F84.4)
  • Síndrome de Asperger (CID 10 – F84.5)
  • Outros transtornos globais do desenvolvimento (CID 10 – F84.8)
  • Transtornos globais não especificados do desenvolvimento (CID 10 – F84.9)

Existem variadas formas de abordagem dos transtornos globais do desenvolvimento, desde as individuais realizadas por profissionais treinados em uma área específica, até as compostas por atendimentos multidisciplinares. Entre elas, estão: o Modelo Applied Behavior Analysis (ABA), o Modelo Denver de Intervenção Precoce (DENVER ou ESDM), a Integração Sensorial, a Comunicação Alternativa e Suplementar ou Picture Exchange Communication System (PECS), dentre outros. A escolha do método mais adequado deve ser feita pela equipe de profissionais de saúde assistente com a família do paciente e deverá ser coberta pelos planos de saúde, de acordo com a normativa.

8. Pessoas com TEA têm direito a uma carteirinha, que garante prioridade no atendimento a serviços públicos e privados

Em 2020, entrou em vigor a Lei 13.977, conhecida como Lei Romeo Mion — em referência ao filho autista do apresentador Marcos Mion —, que criou a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea). O objetivo do documento é “garantir atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social”, conforme o artigo 3º.

A carteira é expedida de forma gratuita pelos órgãos responsáveis pela execução da política de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, mediante requerimento, acompanhado de relatório médico, com indicação do código da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID).

9. O transtorno do espectro autista nem sempre é hereditário

A causa do autismo não é única e vem de uma complexa interação entre fatores genéticos e condições ambientais, como destaca o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba (PR). Uma pesquisa global feita com mais de 2 milhões de crianças de sete países diferentes mostrou que os fatores genéticos são a principal causa dos casos confirmados de TEA. Na análise, os pacientes foram acompanhados até completarem 16 anos e mais de 22 mil foram diagnosticados com autismoFoi constatada a hereditariedade do autismo em 80% deles, com diferenças entre os potenciais fatores de risco de cada país – reforçando a ideia de que o ambiente também tem influência no desenvolvimento do transtorno.

De acordo com o CDC, são fatores de risco para o autismo: ter um irmão com TEA; ter certas condições genéticas ou cromossômicas, como a síndrome do X frágil ou esclerose tuberosa; vivenciar complicações no parto; e nascer de pais mais velhos.

10. O aumento de casos pode estar relacionado ao aprimoramento no diagnóstico

O crescimento das taxas de autismo pode assustar as famílias, mas também é um sinal do avanço da ciência. “Atualmente existe uma maior consciência sobre o transtorno do espectro autista e as diferentes formas com que ele se manifesta”, afirma o pesquisador Alysson Muotri, do Departamento de Pediatria e Medicina Molecular, da Universidade da Califórnia, em San Diego, e uma das autoridades no assunto. “Antigamente, a maioria dos diagnosticados eram casos graves, não verbais, bem dependentes. Hoje em dia, temos contato também com muitos casos menos severos, como os aspergers, o que pode ser um fator que contribui para o aumento do número de diagnósticos”.


Fonte:https://revistacrescer.globo.com/criancas/saude/noticia/2023/04/10-informacoes-sobre-autismo-que-voce-precisa-saber.ghtml

 


Comentários