ATRASO NA FALA PODE SER SINAL DE AUTISMO?

Menina conversando e lendo um livro com a mãe — Foto: Freepik

Menina conversando e lendo um livro com a mãe — Foto: Freepik

 

Atraso na fala pode ser sinal de autismo?

Várias coisas podem estar por trás de uma dificuldade no desenvolvimento da fala. Para parte das crianças, isso pode ser resolvido apenas com o acompanhamento de um fonoaudiólogo, mas, em alguns casos, pode ser que seja preciso fazer uma investigação mais profunda. Entenda!

Por Crescer

04/12/2023 20h38  Atualizado há 3 meses

 

É muito comum que crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresentem dificuldade de falar, socializar e se comunicar. E, de fato, quando as famílias começam a desconfiar do diagnóstico, o atraso na fala costuma ser mesmo um dos primeiros sinais de alerta. Mas é preciso tomar muito cuidado ao fazer essa associação, porque nem sempre o atraso na fala é um sinal de autismo.

Várias coisas podem estar por trás de uma dificuldade no desenvolvimento da fala, como falta de estímulos adequados, excesso do uso de telas, dificuldades cognitivas, síndromes genéticas… Para parte das crianças, isso pode ser resolvido apenas com o acompanhamento de um fonoaudiólogo, mas, em alguns casos, pode ser que seja preciso fazer uma investigação mais profunda.

Por isso mesmo, ao menor sinal de desconfiança, compartilhe as suas dúvidas com o pediatra e explique que coisas têm feito você pensar que pode haver algo de diferente no desenvolvimento do seu filho. Só um especialista é capaz de dizer se há suspeita de TEA ou não.

Atenção aos marcos do desenvolvimento

Desde bebês, os pequenos já são capazes de transmitir mensagens para os pais e cuidadores. E isso acontece de várias maneiras: troca de olhares, choros, sorrisos, gritos… Eles conseguem se comunicar com os pais e sinalizar que estão com fome, com dor, felizes ou irritados sem precisar dizer uma palavra sequer.

É só perto do primeiro ano de idade que as primeiras palavras vão começar a aparecer. No começo, são expressões soltas e fora de contexto. A partir dos 2 anos, é esperado que a criança tenha cerca de 150 a 200 palavras no vocabulário e já saiba construir frases mais complexas e contextualizadas para, a partir daí, começar a estabelecer um diálogo.

Quando isso não acontece e o pequeno demora mais para aprender a falar é hora de acender o sinal de alerta e compartilhar essa preocupação com o pediatra. "Assim como temos marcos do desenvolvimento infantil, como sentar, engatinhar e andar, também temos marcos da linguagem. Eles são um norte para a gente saber se a criança está falando o que é esperado para a idade ou não", explica a fonoaudióloga infantil Joice Telles, especialista em linguagem (RS).

Atraso na fala X dificuldade de comunicação

Atrasos na fala são uma pista importante de que pode haver algo de diferente no desenvolvimento da criança. Porém, quando falamos em TEA, precisamos prestar atenção também em alguns outros sinais. "Quando investigamos um possível diagnóstico de TEA, não observamos só a questão da fala. Também analisamos várias outras coisas que possam confirmar a nossa suspeita, como a forma de brincar, de estabelecer contato visual, de interagir com outras pessoas, de dialogar…", diz Joice.

Bebê brincando com a mãe — Foto: Freepik
Bebê brincando com a mãe — Foto: Freepik

Em outras palavras, mais do que observar se seu filho já está falando ou não, é fundamental prestar atenção se ele consegue se comunicar de forma efetiva de outras maneiras. Ele balbucia? Chora quando precisa expressar alguma necessidade? Reage quando é estimulado? Dá risada quando um adulto brinca com ele? Faz contato visual quando é chamado?

"Todo indivíduo com autismo vai ter alguma dificuldade em relação à linguagem e comunicação, mas não necessariamente em relação à fala. A criança já dá esses sinais desde bebê, mas nem sempre é fácil de perceber. Por isso, via de regra, os pais só começam a ter essa suspeita de TEA quando o atraso da fala aparece, porque ele é mais palpável", explica a neuropediatra Ellen Manfredin, especialista em autismo e neurodesenvolvimento infantil (SP).

Quando nos comunicamos com outras pessoas, muitas coisas estão em jogo: as palavras ditas, os gestos, os olhares trocados e as interações, por exemplo. É aí que aparecem as dificuldades das crianças diagnosticadas com TEA. Mesmo as que falam perfeitamente bem costumam ter déficits de compreensão de linguagem e demoram mais para conseguir entender metáforas, ironias…

"Atraso de fala é diferente de atraso de comunicação. A fala é apenas o ato motor que possibilita a transmissão de sons, palavras e frases. A criança com TEA pode pronunciar palavras corretamente, mas de maneira muito direta e curta, sendo muito literal, repetindo expressões, usando a terceira pessoa para se referir a ela mesma, por exemplo", afirma a neurologista infantil Angélica Ávila, especialista em autismo (DF).


Fonte:https://revistacrescer.globo.com/criancas/desenvolvimento/noticia/2023/12/atraso-na-fala-pode-ser-sinal-de-autismo.ghtml?i

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