O REVELADOR ESTUDO SOBRE SUICÍDIO NOS DOIS PRIMEIROS ANOS DE PANDEMIA NO BRASIL

  Profissional de saúde trabalha na enfermaria da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) onde são tratados pacientes infectados com o novo coronavírus, no hospital Santa Casa em Belo Horizonte, Minas Gerais

O revelador estudo sobre suicídio nos dois primeiros anos de pandemia no Brasil

Número de casos não surpreendeu pesquisadores da Fiocruz, mas a mudança sobre os grupos mais atingidos

Por Ana Carolina Diniz

10/08/2023 19h32  Atualizado há 4 meses

A um mês do setembro amarelo, campanha que tem objetivo de conscientizar e prevenir o suicídio, um estudo realizado por pesquisadores da Fiocruz se debruça sobre este tema difícil. Eles analisaram o número de suicídios ocorridos durante os dois primeiros anos de pandemia no Brasil por idade, gênero e região. De acordo com levantamento, foram 30 mil suicídios no período, número já identificado em anos anteriores, mas com impacto mais crítico nas faixas de idade de 30-59 anos e naqueles de 60 anos e mais, sobretudo em mulheres das regiões Norte e Nordeste. 

A análise foi feita pelo epidemiologista e chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (LEGEPI), Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), o médico psiquiatra Maximiliano Ponte, da Fiocruz Ceará e o pesquisador sênior da Fiocruz Amazônia, Bernardo Lessa Horta.

O artigo intitulado “Excess suicides in Brazil during the first two years of the COVID-19 pandemic: gender, regional and age group inequalities” (“Excesso de suicídios no Brasil nos dois primeiros anos da pandemia de COVID-19: desigualdades de gênero, regionais e de faixas etárias) foi aceito para publicação na “International Journal of Social Psychiatry”, periódico no campo da psiquiatria social.

A pesquisa mostra que o segundo ano da pandemia (março/2021 a fevereiro/2022) foi o mais crítico, com 28% de suicídios além do esperado em mulheres com 60 anos e mais da região Sudeste, bem como 32% e 61% de suicídios além do esperado em mulheres com 30-59 anos das regiões Norte e Nordeste, respectivamente. Entre os meses de julho e outubro de 2021, um dado alarmante: excesso de suicídios de 83% em mulheres com 60 anos e mais do Nordeste.

De acordo com Orellana, a fonte de dados do estudo foi o banco de dados oficial de mortalidade do Ministério da Saúde do Brasil e teve como objetivo estimar o excesso de suicídios no Brasil e avaliar diferenças dentro e entre subgrupos durante os dois primeiros anos da pandemia de COVID-19. Segundo ele, o estudo reforça que países severamente atingidos pelos efeitos diretos da pandemia como o Brasil, foram mais propensos aos seus efeitos indiretos sobre outras causas de morte, como o suicídio e as mortes maternas, por exemplo.

Os autores finalizam o artigo destacando o substancial excesso de suicídios em mulheres de 30 a 59 anos das regiões Norte e Nordeste, bem como o padrão consistente de suicídios excedentes em homens idosos de diferentes regiões do Brasil. 

Orellana salienta que o suicídio já era um desafiador e crescente problema de saúde pública no Brasil, antes da pandemia, pois, de acordo com o Ministério da Saúde, haviam indícios de aumento em suas taxas, especialmente entre homens e de 2016 em diante. 

- Infelizmente, nosso estudo mostrou um agravamento do problema, sobretudo entre as mulheres. Entre os mais jovens ou naqueles entre 10-29 anos, o número de suicídios foi menor do que o esperado ao longo dos dois primeiros anos de pandemia no Brasil, tanto em homens como em mulheres.


Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2023/08/o-revelador-estudo-sobre-suicidio-nos-dois-primeiros-anos-de-pandemia-no-brasil.ghtml

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