MINDFULNESS ORIGEM E ATUALIDADE
O “boom” do Mindfulness já aconteceu há algum tempo nos EUA e, especialmente em alguns países da Europa. Muito se fala sobre o tema, seja no mundo corporativo, acadêmico ou mesmo no ponto de ônibus – pessoas leigas preocupadas ou necessitadas em melhorar seu bem estar psicológico.
Isso, em grande parte, acontece por um
motivo bem específico: o número de pesquisas científicas e
de comprovações sobre os benefícios da prática de Mindfulness simplesmente
multiplicaram nos últimos anos!
O sucesso tem sido tão absoluto, que a Revista Time
considera uma “Mindful Revolution” e não é para menos, já que sua metodologia
pode ser aplicada em empresas, escolas e, olha só, até mesmo no Parlamento
Britânico – onde as mudanças têm sido ainda mais fantásticas!
Como deu para perceber um pouquinho, neste artigo
que inaugura meu canal aqui na Academia do Psicólogo, vamos fazer uma viagem
pelo mundo, para saber um pouquinho como anda o desenvolvimento do aclamado
tema mundo afora.
A Origem e os Programas
Mindfulness está longe de ser algo
recente, pelo contrário, sua origem encontra-se nos cânones budistas datados de,
pelo menos, 2.500 anos. Sob o nome de SATI, na língua pali
(uma prima do sânscrito), foi traduzido como Mindfulness onde encontra sua
melhor tradução (e ainda há controvérsias).
A discussão sobre a tradução correta
de sati é mundial e mesmo nos cânones budistas a
coisa é meio confusa, pois a palavra muda um pouco seu sentido de acordo com o
contexto em que é inserida.
No seio budista, mindfulness (ou sati) configura um
passo fundamental para a libertação do sofrimento humano, razão da existência
do budismo. Ao alcançar a iluminação, o então Buda retorna pregando um caminho
de 8 passos para conseguir tal façanha, sendo o cultivo de um tipo de
consciência específico (de atenção plena), o sétimo passo. Muitas práticas se
desenvolveram no budismo para este fim.
Em meados dos anos 70, Jon Kabat-Zinn,
então professor emérito da Universidade de Massachusetts, resolveu tirar o
conceito da atenção plena de dentro do budismo e trazê-lo para dentro das
universidades.
Foi aperfeiçoando até ter retirado todo e qualquer
aspecto religioso da prática e assim fundamentou o primeiro programa baseado em
Mindfulness (MBSR), para redução de estresse, atendendo casos clínicos onde a
medicina já não mais podia contribuir. O marco se deu no ano de 1979, com a
fundação da Clínica de Estresse dentro do renomado MIT, por Jon Kabat-Zinn,
onde o carro chefe dos tratamentos empregados era Mindfulness.
Os primeiros estudos científicos vieram do MBSR,
desde o ano de 1979, onde Mindfulness mostrou-se eficiente não só na redução e
um melhor gerenciamento de estresse, mas também na melhora da qualidade de vida
de pacientes com dor crônica.
Estes estudos preliminares abriram
portas para milhares de outros mais.
Especialmente o programa MBSR foi um marco para a
importância hoje concedida, não só da prática de meditações para cultivo da
atenção plena, mas também o desenvolvimento das habilidades de mindfulness,
para a psicologia contemporânea.
Alguns autores (Chiesa e Malinowski, 2011)
consideram que somente após a existência do MBSR passou-se a considerar a
possibilidade de Intervenções Baseadas em Mindfulness (conhecidas sob a sigla
MIB) e que hoje fundamentam práticas, estratégias e abordagens altamente
eficazes e responsivas, direcionadas para os mais diferentes males.
Um dos programas mais conhecidos dentro da
Psicologia é o MBCT, a Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness, formatado por
Zingel Segal, Mark Williams e John Teasdale, baseado e inspirado no programa de
Jon Kabat-Zinn, mas com um objetivo específico: a prevenção de recaídas na
depressão, considerado um dos maiores problemas da doença.
O estudo foi publicado no renomado
jornal médico The Lancet, que afirmou que Mindfulness pode ser tão eficaz como
a medicação antidepressiva para evitar recaídas na depressão.
Abaixo, segue a tabela publicada no estudo em questão, sendo a linha azul correspondente aos pacientes que fizeram o tratamento apenas farmacológico e a linha vermelha representa os pacientes que apenas praticaram mindfulness. Apesar de você ver aí uma diferença, ela não é tão representativa ao ponto de se considerar clinicamente atestada como superior, mas já é bastante animador, não acha?
Diante desta e de tantas outras evidências, o Nice (National Institute for Health and Care Excellence, uma instituição não governamental inglesa, uma referência europeia) passou a recomendar Mindfulness como intervenção de tratamento para adultos acometidos com depressão recorrente.
Diante desta e de tantas outras evidências, o Nice
(National Institute for Health and Care Excellence, uma instituição não
governamental inglesa, uma referência europeia) passou a recomendar Mindfulness
como intervenção de tratamento para adultos acometidos com depressão
recorrente.
Existem muitos outros programas que foram sendo
desenvolvidos posteriormente. Há uma prática específica em todos os programas
baseados em mindfulness, conhecido como “alimentação consciente” e que consiste
em empregar algumas habilidades mindful enquanto nos alimentamos.
Desta prática, surgiram dois programas: o Mindful
Eating e o MB-Eat, ambos com 8 semanas e 100% focados em melhorar a relação da
pessoa com a alimentação, sendo bastante úteis em alguns casos de distúrbios
alimentares, especialmente a TCAP (transtorno de compulsão alimentar
periódica).
Das evidências positivas de Mindfulness, surge um
novo campo de estudo: o impacto do desenvolvimento da compaixão, elemento que
passou a fazer parte de mindfulness um tempo depois da formatação do MBSR. Hoje
também há programas baseados na compaixão, mas quero deixar este assunto para
desenvolvermos bem em um próximo artigo (saiba que ele pode ser divisor de
águas para nós, psicólogos).
A Psicologia e
o Psicólogo
Diante de alguns estudos, como estes que brevemente
mencionei, como não brilhar nossos olhos? Como não se entusiasmar com a
possibilidade de remissão de sintoma em casos de depressão recorrente com
apenas 8 semanas de intervenção?
Sim, nós podemos tornar nosso trabalho
muito efetivo através de mindfulness.
Tenho, agora, algumas coisas para te falar – coisas
boas e coisas não tão legais assim.
Pois bem, quero começar te falando
sobre as coisas não tão legais: qualquer
pessoa, com qualquer formação, pode fazer um curso de formação em Mindfulness e
sair por aí trabalhando com os protocolos para diminuição do estresse, para
evitar recaídas na depressão ou mesmo para tratar a compulsão alimentar,
através dos programas mencionados – este último, inclusive, já é uma realidade
no Brasil, onde, basicamente, as nutricionistas têm se destacado na área.
Péssimo, não? Pra que estudar, por
baixo, 5 anos para ser psicólogo, então?
Aí que está: estes programas, apesar de terem uma
profundidade razoável, não tem cunho interventivo ou de tratamento, mas sim, um
teor mais educativo.
E a hipótese que eu levanto aqui com
você é: se em termos de “psicoeducação” a metodologia é tão eficiente, se for
de teor interventivo, então…?! A grande questão, amigo psicólogo, é que logo
teremos uma enxurrada de profissionais das mais diversas áreas atuando com
Mindfulness – e a hora da gente se posicionar no mercado de
trabalho é agora!
E não pense que a utilização de mindfulness na
psicologia é algo novo, ou apenas pertecente aos terapeutas
cognitivo-comportamentais. Uma série de terapias contextuais se
desenvolveram utilizando mindfulness de alguma forma: a terapia de aceitação e
compromisso e a terapia dialética comportamental são excelentes exemplos.
Mas também ouvimos falar sobre outros dois
movimentos, as terapias baseadas em mindfulness, que engloba a utilização dos
modelos já existentes e também de outros protocolos de atuação de cunho
interventivo (para ser utilizado dentro da clínica) e também sobre um movimento
que se chama ‘mindfulness psychology’, que presume a adaptação de mindfulness
em diferentes abordagens – na psicanálise, na gestalt-terapia, e por aí vai.
É, sem dúvidas, o mercado é muito
promissor!
E para trazer isso para o
exercício profissional, como que faz?
Muita gente entra em contato comigo para fazer o
programa de 8 semanas – este mesmo, de cunho vivêncial – e sai aplicando o
programa por aí. Então vale a dica: NÃO FUNCIONA ASSIM! Não queime sua cara
fazendo experiências absurdas com seus clientes, o tiro pode sair pela culatra!
Primeiro, o programa de 8 semanas tem
cunho vivencial, é pra gente aprender e praticar!
Existe, nas Terapias Baseadas em Mindfulness, uma
modulação de neurônios espelho, o que implica dizer que suas intervenções não
serão eficientes caso você não pratique mindfulness. Então, o primeiro passo
para trabalhar com mindfulness é a prática pessoal. Com isso você já estará
trabalhando com mindfulness, através de um tipo de terapia específica, a
Terapia Orientada em Mindfulness (onde não falamos a respeito nem da prática,
nem das habilidades correspondentes, apenas praticamos).
Já costuma ser surpreendente!
Segundo, para trabalhar com as Intervenções
Baseadas em Mindfulness você precisa entender como funciona a operacionalização
de mindfulness, como a prática atua, para saber o que é mais eficiente em cada
caso. Somente assim poderá realmente fazer um trabalho responsável, eficiente e
responsivo.
Mas nada impede que você comece, desde já,
treinando algumas habilidades mindful em consultório ou em seu trabalho (graças
à Academia do Psicólogo). E é exatamente para isso que vou deixar uma prática
hoje. Comece treinando-a com uma pessoa qualquer, fora do consultório (se esta
for sua atuação) ou do seu trabalho.
É normal que, enquanto alguém nos fala algo, nós,
psicólogos, estejamos construindo um quebra cabeça com as informações dadas,
buscando em nossos “bancos de dados” conteúdos que se assemelham ou se associam
ao tema, para poder, assim, dar uma resposta ou uma devolutiva mais adequada.
O exercício que quero te passar é que simplesmente
deixe isso de lado e dedique-se a escutar a pessoa com o seu corpo todo, não só
com os ouvidos. Fazemos isso percebendo nossa presença física, tomando
consciência do nosso corpo e da nossa respiração no momento presente, enquanto
nos dedicamos, exclusivamente à escuta consciente.
Este é apenas um exercício para
cultivarmos habilidades de terapeuta através de mindfulness.
E se você se interessa pelo tema e quer saber um
pouco mais sobre o impacto de mindfulness pelo mundo, me acompanha neste vídeo!
Gostou do artigo? Compartilhe comigo suas
impressões!
Referências
Bibliográficas:
Kuyken, W. (2015),
Effectiveness and cost-effectiveness of mindfulness-based cognitive therapy
compared with maintenance antidepressant treatment in the prevention of
depressive relapse or recurrence (prevent): a randomised controlled trial. The
Lancet : volume 386, N. 9988, p. 63-73, July 2015.
Chiesi, A., &
Malinowski, P. (2011). Mindfulness-based approaches: are they all the same? Journal of Clinical Psychology, 67 (4), 404-424.
AUTOR
SHEILA DRUMOND
sheiladrumondpsicologa@gmail.com
Sheila Drumond é psicóloga clínica, fez suas
formações em mindfulness e psicologia positiva em Buenos Aires, fundou no
Paraná um Centro de referência em mindfulness, onde desenvolve programas,
estudos, pesquisas e formação especialmente para psicólogos.
Fonte: http://academiadopsicologo.com.br/portal/mindfulness-origem-e-atualidade/
O
LEGADO DE JON KABAT-ZINN | MINDFULNESS PARA QUALIDADE DE VIDA E REDUÇÃO DO
ESTRESSE
- fevereiro 4, 2021
- 11:44 am
Jon Kabat-Zinn
é um professor emérito de Medicina e fundador da Clínica de Redução do Estresse
e do Centro de Atenção Plena em Medicina, Saúde e Sociedade da Universidade de
Massachusetts. Sua contribuição para a popularização da prática da atenção
plena (mindfulness) é um legado importante para a área da saúde mental e para a
promo
A atenção
plena é uma prática que consiste em prestar atenção intencionalmente no momento
presente, sem julgamentos. Ela é baseada na meditação budista e tem sido
aplicada em diversas áreas, desde a saúde mental até a administração de
empresas. O programa MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), criado por Jon
Kabat-Zinn, é uma terapia de grupo que ensina as pessoas a lidar com o estresse
e a dor crônica por meio da atenção plena.
O MBSR foi
desenvolvido por Jon Kabat-Zinn em 1979, quando ele percebeu que muitos de seus
pacientes estavam sofrendo de estresse crônico e doenças relacionadas. Ele
criou um programa de oito semanas que ensina técnicas de meditação e
mindfulness para ajudar as pessoas a lidar com o estresse, a ansiedade e a dor
crônica. O programa inclui práticas formais de meditação, como a meditação
sentada e caminhada, bem como práticas informais, como a atenção plena durante
atividades cotidianas, como comer e tomar banho.
O MBSR tem
sido aplicado em várias áreas, incluindo hospitais, escolas, prisões e
empresas. Ele tem sido utilizado para tratar uma variedade de condições,
incluindo ansiedade, depressão, dor crônica, hipertensão, síndrome do intestino
irritável, distúrbios do sono e transtorno de estresse pós-traumático.
A contribuição
de Jon Kabat-Zinn para a popularização da atenção plena não se limita ao MBSR.
Ele também é autor de vários livros, incluindo “Wherever You Go, There You Are”
e “Full Catastrophe Living”, que ajudaram a popularizar a prática da atenção
plena e torná-la acessível ao público em geral. Seus livros fornecem
informações e exercícios simples para que as pessoas possam praticar
mindfulness em suas vidas diárias.
Além disso,
Jon Kabat-Zinn contribuiu para a pesquisa científica sobre os benefícios da
atenção plena. Sua pesquisa ajudou a demonstrar que a atenção plena pode ajudar
a reduzir o estresse, a ansiedade, a depressão, a dor crônica e a hipertensão.
Ele também conduziu estudos que demonstraram que a prática da atenção plena
pode melhorar a imunidade, aumentar a capacidade de concentração e melhorar a
qualidade do sono.
Em resumo, o
legado de Jon Kabat-Zinn é a popularização da prática da atenção plena e sua
aplicação em diversos contextos para melhorar a saúde e o bem-estar das
pessoas. Ele criou o programa MBSR e contribuiu para a pesquisa científica
sobre os benefícios da atenção plena. Seus livros ajudaram a tornar a prática
da atenção plena
Data de nascimento:
05 de Junho de 1944
Nasceu em:
The United States
Jon Kabat-Zinn, Ph.D., é fundador Diretor Executivo do Centro de Atenção
Plena em Medicina, Saúde e Sociedade da Universidade de Massachusetts Medical
School. Ele também é o diretor fundador do renomado Redução Clínica de Estresse
e Professor de Medicina emérito da Universidade de Massachusetts Medical
School. Ele ensina mindfulness e redução do estresse Mindfulness-Based (MBSR)
em vários locais ao redor do mundo. Ele recebeu seu Ph.D. em biologia molecular
do MIT em 1971 no laboratório do Nobel Laureate, Salvador Luria. É o autor de
numerosos artigos científicos sobre as aplicações clínicas de mindfulness em
medicina e cuidados de saúde, e de uma série de livros para o público leigo e é
também co-autor, com sua esposa Myla, das Bênçãos cotidianas (Hyperion, 1997).
Em geral, seus livros foram traduzidos para mais de 30 languages. Seus
principais interesses de pesquisa se concentraram em mente interações / corpo
para a cura, aplicações clínicas de treinamento de meditação mindfulness, os
efeitos da MBSR no cérebro, no sistema imunológico e no emocional saudável
expressão enquanto sob tensão; na cura (taxas de compensação da pele) em
pessoas com psoríase; em doentes submetidos a transplante de medula óssea; com
presidiários e funcionários; em ambientes multiculturais; e sobre o stress em
vários ambientes corporativos e ambientes de trabalho.
Sobre o autor (2021)
Jon Kabat-Zinn,
Ph.D., é cientista, escritor e professor de meditação. É Professor Emérito de
medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, onde fundou
o Programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness – MBSR, a Clínica de
Redução de Estresse e o Centro de Mindfulness em Medicina, Assistência Médica e
Sociedade. Além deste livro, é também o autor de Wherever You
Go, There You Are: Mindfulness Meditation in Everyday Life (Hyperion, 1994,
2005), Nossos filhos, nossos mestres (em coautoria com Myla Kabat-Zinn;
Objetiva, 1998) e Coming to Our Senses: Healing Ourselves and the World Through
Mindfulness (Hyperion, 2005). É coautor (com Williams, Teasdale e Segal) de The
Mindful Way Through Depression: Freeing Yourself from Chronic Unhappiness
(Guilford, 2007). Autor de Arriving at Your Own Door: 108 Lessons in
Mindfulness (Hyperion, 2007); Letting Everything Become Your Teacher (Random
House, 2009). Editor de The Mind's Own Physician: A Scientific Dialogue with
the Dalai Lama on the Healing Power of Meditation (com Richard Davidson, New
Harbinger, 2011). Autor de Mindfulness for Beginners: Reclaiming the Present
Moment and Your Life (Sounds True, 2012). Coeditor de Mindfulness: Diverse
Perspectives on its Meaning Origins, and Applications (com Mark Williams,
Routledge, 2013). Seus livros já foram publicados em mais de 35 idiomas. Em 1971
doutorou-se pelo MIT em biologia molecular, no laboratório de Laureate Salvador
Luria, ganhador do Prêmio Nobel. Dedica sua carreira de pesquisador às
interações da mente e do corpo para a obtenção da cura, e às aplicações
clínicas do treinamento de meditação mindfulness para pessoas com dores
crônicas ou transtornos ligados ao estresse. Seu trabalho tem contribuído para
o aumento da divulgação do mindfulness nos meios e instituições mais convencionais,
como a medicina, psicologia, assistência médica, escolas, empresas, prisões e
esportes profissionais. Hospitais e centros médicos em todo o mundo agora
oferecem programas clínicos baseados no treinamento em mindfulness e MBSR. Ele
é membro fundador do Fetzer Institute e membro do Society of Behavioral
Medicine. Recebeu o prêmio Art, Science, and Soul of Healing Award, do
Institute for Health and Healing, California Pacific Medical Center de San
Francisco (1998); o segundo Annual Trailblazer Award, por seu "trabalho
pioneiro no campo da medicina integrada", do Scripps Center for
Integrative Medicine de La Jolla, Califórnia (2001); o Distinguished Friend
Award, da Association for Behavioral and Cognitive Therapies (2005); o prêmio
Inaugural Pioneer in Integrative Medicine Award, do Bravewell Philanthropic
Collaborative for Integrative Medicine (2007); o prêmio Mind and Brain de 2008,
do Center for Cognitive Science, da Universidade de Torino, Itália; e o Pioneer
in Western Socially Engaged Buddhism Award em 2010, da Zen Peacemakers
Association. Ele é fundador do Consortium of Academic Health Centers for
Integrative Medicine (CAHCIM), além de ser membro do conselho do Mind and Life
Institute, grupo que organiza debates entre o Dalai Lama e os cientistas do
Ocidente, a fim de promover uma compreensão mais aprofundada das diferentes
maneiras de conhecer e investigar a natureza da mente, emoções e realidade. Ele
e sua esposa, Myla Kabat-Zinn, estão engajados no apoio a iniciativas para
promover mindfulness na educação primária e secundária, além de estimular
relações parentais mais conscientes.
Biblioteca Mindfulness 1: A
história do programa Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR)
Cloud & DT
| Service Delivery Manager
24 de setembro de 2019
Abrir Leitor imersivo
KABAT-ZINN, Jon. Some Reflections on the Origins of MBSR,
Skilfull means, and the trouble with maps. Contemporary
Buddhism. vol. 12, n. 1. p. 281-306. 2011.
Neste texto, Jon
Kabat-Zinn, já com quase quatro décadas de experiência em meditação,
discorre sobre seus primeiros contatos com este assunto, bem como o percurso
para a estruturação do Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) e suas
implicações dentro da medicina tradicional.
Iniciou suas práticas
meditativas nos idos dos anos 60, enquanto era estudante do curso de Biologia
no MIT, quando iniciou sua reflexão sobre qual seria seu papel como habitante
deste planeta. Ao iniciar sua carreira docente em sua área de formação, começa
também a dar aulas de meditação e de Yoga e aprofundar seus conhecimentos em
Dharma (ensinamentos de Buda).
Em 1979, três anos após
ter iniciado a trabalhar na Escola de Medicina da Universidade de Massachussets,
durante um retiro Vipassana, teve uma “visão” sobre os desdobramentos de uma
adoção científica da meditação, e isto se tornou sua missão Cármica: levar a
meditação e a Yoga para dentro da saúde pública como um complemento aos
tratamentos médicos. Após apresentar a ideia sobre um programa complementar de
autocuidado, baseado em meditação e Yoga, para pacientes a médicos do hospital,
e esta ser bem recebida, surge o Programa de Redução de Estresse e Relaxamento
já no formato de oito semanas de duração. Passados alguns anos tratando
pacientes que já não respondiam aos tratamentos convencionais, este programa
foi renomeado para Clínica de Redução de Estresse e incorporado como um serviço
clínico do Departamento de Medicina, deixando de estar à margem do sistema de
saúde principal. A meditação foi divulgada à classe médica em termos de auto
regulação da atenção (terminologia já estabelecida a época), tornando-se como
uma ponte entre os conceitos Dharma e a ciência médica. Vários trabalhos
científicos foram realizados, utilizando-se da nomenclatura de treinamento em
Meditação de Atenção Plena, os quais abordaram as diversas origens da meditação
(Theravada, Mahayana, Vedanta, Correntes Chinesas e Coreanas), até que em
meados de 1990, todo este trabalho passou-se a ser referenciado como MBSR,
sendo que a palavra Mindfulness passou a também ser usada como sinônimo de todo
este trabalho.
A Atenção Plena
(Mindfulness) pode ser entendida como a orientação na observação da experiência
vivida no momento presente sem qualquer julgamento. O autor não se apresenta
simpático a produzir uma definição terminativa sobre Mindfulness, já que uma
definição fechada pode limitar a compreensão mais profunda do Dharma e de toda
a sua significação.
O autor reflete se o MBSR
não limitou a abrangência total do Dharma a um conjunto de técnicas. Chega ao
entendimento que não houve limitação, seja pela ampliação da consciência gerada
pela Atenção Plena, seja pelos princípios hipocráticos adotados na profissão
médica. A estes ainda se somam o Voto de Bodhisattva, o qual impulsiona o
servir ao próximo, antes de servir a si próprio. Isso tudo impõe uma
responsabilidade ética para aqueles que se predispõem a trabalhar com as
Intervenções Baseadas em Mindfulness (IBM), cabendo aos instrutores destas
intervenções assumirem a responsabilidade de garantir a integridade, qualidade
e padrões do MBSR.
A esta mesma reflexão, o
autor adiciona sua preocupação referente ao treinamento fora do entorno não
budista e a utilização de modelos mentais ou mapas para o ensino da Atenção
Plena. Entendendo o lado positivo do uso de mapas como sendo verdadeiros guias
e orientadores, ressalva, porém, que estes podem limitar a experimentação da
Atenção Plena, cerceando sua amplitude, ao trazer limites e fronteiras às
experiências individuais (o experimentar sem um julgamento ou delimitador). O
não enquadramento da experiência, dentro de um paradigma conceitual ou de
origem (linhagem), permite um entendimento maior da natureza autônoma da mente,
bem como o reconhecimento de que os pensamentos e as sensações que os
acompanham possuem uma atuação limitada sobre a pessoa. Recomenda, ainda o
autor, aos instrutores que utilizem a essência dos conceitos (Dharma), sem
necessariamente utilizar enquadramentos sobre os mesmos (inclusive as
linhagens), utilizando um método aberto de ensino, denominado de “método sem
método”. A experiência individual deve prevalecer a um modelo pré-formatado,
qualquer que seja sua origem.
Entende o autor que a
capacitação de um instrutor MBSR passa pela prática diária da meditação e por
participar em retiros longos, o que denomina ser a prática de toda uma vida.
Este também vê como imprescindível a experiência individual, a vivência nos conceitos
universais do Dharma, os quais somente podem ser conhecidos de dentro para
fora. Esta experiência individual calibra o instrutor a não levar aos
aprendizes uma demanda acima daquela vivenciada pelo mesmo.
Em seu livro Viver a
Catástrofe Total, Jon Kabbat-Zin descreve como a essência Budista da
intervenção MBSR foi aplicada a pacientes que enfrentavam o estresse, a dor e a
enfermidade, sempre gerenciando seu conflito interior de não negar origens
budista, ao mesmo tempo que caracteriza o MBSR como sendo de embasamento
científico, logo aplicável ao sistema de saúde principal. Permeou em suas
preocupações quais seriam os entendimentos sobre o Mindfulness, dado que a
meditação sempre esteve ligada a um ambiente religioso.
Passados mais de trinta
anos, o alinhamento do Dharma com a medicina convencional é materializado por
um crescente número de estudos científicos - os quais analisam os efeitos da
meditação -, e pelas várias IBMs surgidas a partir do MBSR para as mais
diversas aplicações (Terapia Cognitiva, Prevenção de Recaída ao uso de Drogas,
Criação de Filhos, Consciência Alimentar, Cuidado de Idosos, entre outros).
Explica o autor ter criado
o MBSR primeiramente para aliviar o sofrimento humano, incentivar a compaixão e
aumentar o conhecimento sobre a conexão corpo e mente, dentro de um contexto
não religioso. Cabendo também uma interpretação de que sua motivação estava
centrada na divulgação dos ensinamentos contidos no Dharma, sendo que motivos
mencionados são de fato os resultados da experimentação e vivência destes
ensinamentos. Analisar de uma direção ou de outra, parece não descaracterizar
os efeitos benéficos da MBSR sobre a qualidade de vida, tanto do ponto de vista
psicológico, social, médico, quanto do científico.
Define o autor
que o MBSR é mais do que uma prática, é um modo de ser.
O artigo
original pode ser encontrado no site da Universidade do Estado da Pensilvânia
pelo endereço http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/summary?doi=10.1.1.456.4201.
mindfulness: o
que é e como ajuda na saúde mental
Mindfulness é um estado de atenção
plena que pode ajudar quem a pratica a lidar melhor com suas emoções e,
possivelmente, aprimorar sua saúde mental.
Hoje,
o volume de tarefas e obrigações que carregamos nos ombros é tão grande que, às
vezes, acabamos vivendo no piloto automático. Por consequência, prejudicamos
nossa saúde mental. Você já se sentiu assim?
Mindfulness
é um conhecimento milenar cujo objetivo é justamente permitir a “atenção plena”
no momento presente, um estado mental alcançado por práticas meditativas.1; E o que isso tem a ver com o fato de
vivermos no piloto automático? Ao adquirir tal estado de consciência e
auto-regulação da atenção, é possível perceber emoções, ansiedades e sensações
à medida que surgem, sem suprimi-las.2; Assim, adota-se uma postura mais flexível
diante delas.
Portanto,
mindfulness funciona como um canal para que o indivíduo aceite suas emoções e
tenha mais recursos para lidar positivamente com elas.3;
Como a mindfulness funciona
A
prática, apesar de não ter relação com religião, é praticada pelos budistas e
por outras tradições filosóficas há mais de 3.000 anos.4Entretanto,na medicina contemporânea,
está presente apenas há cerca de três décadas. De acordo com Jon Kabat-Zinn5, um dos principais responsáveis pela
sua ocidentalização, um dos grandes motivos para esse movimento é o fato de que
a “mindfulness é a simplicidade em si mesma”. Trata-se, portanto, de parar e
estar presente. E isso é tudo!6
Há
diversas formas de atingir o estado de atenção plena, como praticar a
consciência da respiração, fazer movimentos suaves de yoga ou simplesmente
sentar-se em silêncio.7 A mindfulness é, portanto, voltada às
atividades práticas, como o ato de respirar e o escaneamento corporal
(reconhecer e sentir cada membro do corpo).7
Mindfulness e saúde mental
A
relação entre mindfulness e saúde mental é reforçada pelo Ministério da Saúde,
pois “pode ser usada como terapia clínica em pessoas que sofrem com depressão,
esquizofrenia, compulsão alimentar, dores crônicas e até com usuários de
drogas”.1; Não se trata, no entanto, de uma
substituição a tratamentos medicinais convencionais, mas sim de um complemento às demais formas de tratamento.7
De
acordo com a Universidade de Harvard, por exemplo, certos pacientes que sofrem
de depressão não respondem aos tratamentos mais comuns, como a terapia
comportamental e o uso de antidepressivos. A meditação baseada na mindfulness
seria, então, uma alternativa para aprimorar a saúde mental da pessoa.8
Nos
últimos anos, mais pesquisas sobre o impacto da mindfulness na saúde mental têm
sido desenvolvidas, apontando a sua influência em indivíduos que têm dores
crônicas, são deprimidos ou ansiosos. Há, ainda, estudos menores que procuram
relacionar os efeitos da prática ao manejo de estresse pós-traumático,
fibromialgia e psoríase.8
A
mindfulness também pode reduzir o estresse, segundo um estudo9 conduzido na West Virginia School
Osteopathic Medicine, nos Estados Unidos. O foco da pesquisa foram estudantes
de medicina, um grupo bastante sujeito a desenvolver altos níveis de estresse
ao longo de sua jornada de estudos.9
“Se há uma prática que lhe permite
encontrar paz e clareza, manter o foco e não ficar tão sobrecarregado (pela
escola de medicina), ela será, sem dúvida, a melhor coisa para você”, disse a
autora do estudo, Jennifer Golden. “Essa é uma ferramenta útil para os alunos,
e é algo que traz resultados”, completa.
A mindfulness e as mulheres
Outro
estudo10, conduzido em 2017 pela Escola de Medicina da Universidade de Yale,
concluiu que as mulheres se beneficiam mais da mindfulness do que os homens. A
pesquisa incluiu 77 estudantes que participaram de seminários e práticas de
meditação específicas.
Outro
estudo10, conduzido em 2017 pela Escola de
Medicina da Universidade de Yale, concluiu que as mulheres se beneficiam mais
da mindfulness do que os homens. A pesquisa incluiu 77 estudantes que
participaram de seminários e práticas de meditação específicas.
No
caso dos homens, por outro lado, não foi possível traçar essa mesma relação de
forma tão direta. Para os autores do estudo, isso significa que o sexo masculino e feminino reagem de maneiras diferentes às
emoções. As mulheres tenderiam a internalizá-las,
enquanto os homens fariam o contrário e as externalizariam com mais frequência.
Para
os pesquisadores, os resultados também mostram que é preciso desenvolver
abordagens diversas em relação à mindfulness, mais adaptáveis ao gênero e a
outras características individuais.
A
técnica, portanto, não é simples. As práticas da mindfulness servem de base
para cultivar comportamentos positivos de saúde e promover a resiliência
psicológica e emocional, para melhor enfrentar os desafios da vida.77Mas para que tenham poder terapêutico e
transformador, é importante que os profissionais responsáveis respeitem a sua
complexidade e desenvolvam as habilidades necessárias para apoiar os pacientes.11
Seja pela mindfulness ou por outra
qualquer outra técnica, cuidar da saúde mental é importante. Pesquise,
experimente e entenda qual se aplica melhor à sua situação. O Sistema Único de
Saúde (SUS)1;, por exemplo, disponibiliza 18
práticas integrativas e complementares que atuam no aprimoramento da saúde
mental. Você experimentaria alguma delas?
Referências:
SABRAGE.MDY.18.10.0312
Fonte: https://www.medley.com.br/contamana/conteudos-contamana/mindfulness-o-que-e
Programa de Redução de Stress Baseado em
Mindfulness (MBSR): 1ª Edição (Novo)
Alguma vez
repararam que quando estão a fazer uma tarefa rotineira e repetitiva, como
conduzir ou aspirar a vossa mente está frequentemente a quilómetros de
distância a pensar noutra coisa qualquer? A vossa mente pode estar a fantasiar
com as próximas férias, ou a preocupar-se com alguma tarefa que têm para fazer
no trabalho, ou a pensar em tantos outros assuntos. Em qualquer um dos casos,
não estão plenamente presentes na experiência que estão a ter. A este modo de
funcionamento podemos chamar de piloto automático. Mindfulness é o oposto do
piloto automático, é estar em contacto com a experiência tal como ela é “aqui e
agora”, permitindo-nos libertar de formas de pensar e reagir automáticas e
inúteis.
O Programa de Redução de
Stress Baseado em Mindfulness ou MBSR (Mindfulness-based Stress Reduction) foi
criado pelo médico Jon Kabat-Zinn, na Escola Médica da Universidade de
Massachussetts, nos EUA, no final da década de 70.
A eficácia do programa tem sido cientificamente demonstrada numa ampla
variedade de condições médicas e psicológicas, pelo que se destina ao público
em geral, com mais de 18 anos, que queira iniciar ou aprofundar a sua
experiência no mindfulness e que pretenda aprender estratégias para reduzir os
níveis de stress e ansiedade.
Benefícios, empiricamente validados, do Mindfulness:
Pessoas que meditam regularmente são mais felizes e vivem mais satisfeitas do
que a média, o que tem importantes repercussões na saúde, já que as emoções
positivas estão associadas a uma vida mais longa e saudável.
Entre outros aspectos constata-se que a prática regular de meditação:
- Diminui a ansiedade, a depressão e a irritabilidade;
- Melhora a memória e os tempos de reação;
- Aumenta o vigor físico e mental;
- Torna as relações interpessoais mais satisfatórias;
- Reduz os indicadores-chave de stresse crónico, incluindo hipertensão;
- Mostrou-se eficaz na redução do impacto de doenças graves, dor crónica e o
câncro e pode ajudar na libertação de
dependências como drogas e álcool;
- Fortalece o sistema imunitário.
Desenvolver competências de
atenção, concentração e memória;
– Promover competências de gestão de stress;
– Promover comportamentos adequados de resposta a
situações de stress, diminuído a reactividade às mesmas.
– Estimular competências adaptativas de regulação
emocional;
– Estimular comportamentos e rotinas de
auto-cuidado;
· Diminuir a reatividade à dor crónica;
– Aprender a viver de forma mais plena, momento a
momento, com uma atitude de aceitação da experiência tal como ela for.
O MBSR é, assim, um
programa experiencial, que combina práticas de mindfulness e uma abordagem
psicoeducativa, com vista a desenvolver a capacidade de estarmos conscientes
das nossas experiências (boas ou más, agradáveis ou desagradáveis), momento a
momento, com uma atitude de aceitação, para que possamos aprender a responder,
de forma mais adequada e eficaz ao stress e às exigências do dia-a-dia, em vez
de lhes reagirmos automaticamente.
§ É organizado em formato de grupo, ao longo de 8
sessões, de cerca de 3h cada, e ainda um dia inteiro de retiro (durante um fim
de semana).
§ Em cada sessão abordaremos um tema, sobretudo de forma experiencial,
experimentando, praticando, e treinando.
§ Será ainda fornecido um “Manual do Participante”, com algum material de apoio
aos temas abordados nas sessões, e serão enviadas gravações áudio com as
práticas a realizar em casa.
§ Implica ainda que os participantes pratiquem diariamente em casa de forma
consistente as ferramentas ensinadas.
Temas das sessões:
Sessão 1: Mindfulness: piloto automático vs regressar aos sentidos
Sessão 2: Perceção: formas de ver – “sair das nossas cabeças”
Sessão 3: Despertar: Modo de Fazer e Modo de Ser
Sessão 4: Reatividade ao Stress
Sessão 5: Responder ao Stress – Permitir a Aceitação
Sessão 6: Comunicação difícil
Retiro Mergulhar na prática (Quinta das Lágrimas)
Sessão 7: Qual a melhor forma de tomar conta de mim
Sessão 8: Manter viva a prática de Mindfulness
A metodologia do MBSR baseia-se
numa componente sobretudo experiencial.
Redução
do Estresse Baseada em Mindfulness
MBSR significa
Redução do Estresse Baseada em Mindfulness. O MBSR é um programa de treinamento
que ensina a desenvolver a habilidade de atenção plena. A sigla MBSR
representa as primeiras letras do título do programa em inglês, Mindfulness Based
Stress Reduction. O MBSR é referido como o programa mindfulness original por
ter sido o primeiro. É considerado um programa científico e laico, pois,
além de ser baseado em evidências cientificas quando à sua eficácia, não possui
caráter religioso, dogmático ou místico.
Esse programa de
treinamento surgiu na década de 1980 no contexto hospitalar da Universidade de
Massachusetts (UMass), Estados Unidos. Ele foi desenvolvido por Jon Kabat-Zinn, PhD
professor e pesquisador da UMass, como um protocolo de intervenção clínica para
pessoas que possuíam de doenças crônicas e seus cuidadores. Uma doença
crônica é aquela que geralmente leva tempo para ser tratada, possui
uma evolução lenta e pode durar meses, anos - ou até a vida toda – e
comprometem a qualidade de vida da pessoa. Algumas doenças crônicas não
apresentam sintomas, outras apresentam manifestações severas. Alguns exemplos
são doenças cardiovasculares e hipertensão, dor crônica, fibromialgia, artrite
reumatoide, diabetes – entre outras.
Mas o MBSR não é só para
pessoas com condições crônicas de saúde. Kabat-Zinn percebeu que o programa
poderia ajudar a lidar com o sofrimento em geral. Toda pessoa já experimentou
sofrimento ou outros tipos de emoções e sentimentos negativos, desafiadores ou
desagradáveis. O sofrimento faz parte da condução de Ser Humano. Quando
passarmos por frustrações ou perdas, por exemplo, é normal experimentarmos
algum tipo de sofrimento.
Pense num exemplo: digamos
que você tenha feito planos para um passeio, uma viagem ou simplesmente ir a um
lugar especial. Você toma todas as providências e avisa todas as pessoas
envolvidas. Mas, na hora marcada para a saída, você descobre que o carro
estragou, o voo foi cancelado ou sua carona não poderá mais buscar você...
Arrumar outro meio de transporte levará tempo e, inevitavelmente, você perderá
os compromissos planejados. Tudo o que você passou dias e horas planejando está
cancelado! Como você se sentiria? Isso já aconteceu com você? É normal ficar chateado
– e, tudo bem sofrer por isso. Mas não é só pelo fato do passeio em si ter sido
cancelado (o que já aconteceu) que sofremos. Geralmente, sofremos por tudo o
que deixaremos de fazer (o que ainda não aconteceu). E, tentar consertar o
carro às pressas, arrumar uma carona a qualquer custo, insistir com a companhia
aérea... isso só faz o sofrimento e a angústia aumentar...
Angústias e sofrimentos
geram um estado de estresse nas pessoas. Acontece que, com o passar do tempo,
pessoas que experimentam estresse crônico acabam desenvolvendo diversos tipos
de doenças físicas e mentais severas e incapacitantes. Isso prejudica seus
relacionamentos, seu desempenho no trabalho e sua forma de viver e desfrutar da
vida.
Kabat-Zinn entendeu que
este tipo de treinamento poderia ser realizado por pessoas em diversos lugares
e culturas para aliviar o sofrimento e aprender a lidar com as angústias e
situações desafiadores. Por isso, deu o nome de Redução de Estresse ao
programa, considerando que as técnicas e os conhecimentos ensinados atuariam
centralmente no mecanismo do estresse.
Com o passar do tempo, os
benefícios do MBSR foram sendo divulgados. Mais pacientes e mais pesquisadores
foram se interessando, até que o MBSR e os seus benefícios ganharam espaço na
mídia. O MBSR também é um dos programas com mais pesquisas científicas
realizadas e um dos programas de meditação mindfulness mais praticados no
mundo.
Quais os efeitos e
benefícios do MBSR?
Já mencionamos que mindfulness não é uma prática inócua. Ou seja, ela
acarreta modificações no cérebro.
Além dos benefícios gerais
proporcionados pela prática da meditação mindfulness, pesquisas indicam que
pessoas que passam por um programa MBSR de 8 semanas, ao final, relatam:
- Redução dos níveis de estresse percebido
- Regulação emocional, agindo de forma menos
reativa;
- Melhoria no foco atencional;
- Melhoria no enfrentamento de sintomas e condições
de saúde crônicas, como fibromialgia, enxaqueca, doenças cardíacas.
Para quem o programa MBSR
é indicado?
Não é necessário ter
experiência ou qualquer tipo de conhecimento prévio com mindfulness para
participar do programa. Por ser um treino que desenvolve habilidades gerais,
pode ser praticado tanto por pessoas saudáveis que desejam melhorar sua saúde e
aumentar a sensação de bem-estar quanto por pessoas que experimentam estresse e
alguns topos de condições crônicas de saúde. Outras indicações são:
- Estudantes, vestibulandos e concurseiros que
desejam melhorar foco e concentração e equilibrar estudos com autocuidado;
- Profissionais que desejam equilibrar as
demandas do trabalho e da vida pessoal e familiar;
- Pessoas que buscam desenvolver a criatividade
e reduzir vieses limitantes;
- Líderes e gestores que desejam melhorar suas
habilidades interpessoais e tomar decisões mais conscientes;
- Pessoas que buscam melhorar as habilidades de
comunicação, relacionamento interpessoal e inteligência emocional;
- Pessoas com ansiedade e que, geralmente,
apresentam insônia;
- Pessoas que queiram fortalecer a memória;
- Pessoas que querem lidar melhor os sintomas de
doenças crônicas, como dor crônica, estresse e outras;
- Pessoas que cuidam de outras pessoas
(cuidadores) e que desejam manejar o estresse e cuidar de sua saúde
mental.
Como funciona o programa
de treinamento MBSR?
O programa MBSR pode ser
feito presencialmente ou online ao vivo (quando todos os participantes se
conectam simultaneamente). O treinamento está organizado em 4 etapas
principais.
1. Sessão Introdutória
A primeira etapa é uma
palestra, ou sessão introdutória. Este é o momento da teoria: são apresentadas
as evidencias e embasamentos científicos, além de orientar sobre como o
treinamento vai funcionar e tirar dúvidas dos participantes. Daqui por diante,
tudo será 100% prático.
2. Programa Redução do
Estresse Baseado em Mindfulness (MBSR)
A segunda etapa é a
realização do programa em si. O MBSR está estruturado como um treinamento de 8
aulas/sessões, sendo realizada uma aula por semana com duração média de 2 horas
e 30 minutos cada. No total, o programa dura 8 semanas – por isso muitas
pessoas costumam chama-lo também de Programa de 8 semanas. O treinamento
acontece em grupo – já se sabe que a participação em grupo potencializa o
aprendizado e torna o processo mais dinâmico e integrador.
A cada aula, são ensinadas técnicas diferentes,
de forma estruturada e sistemática. Gradativamente, o participante vai
aprendendo mecanismos para desenvolver a habilidade de mindfulness. O curso é
totalmente prático. Os participantes aprendem as técnicas para poderem
praticá-las diariamente durante a semana, entre as sessões.
3. Prática Diária entre
Sessões
Há tarefas e atividades a
serem realizadas diariamente, entre as aulas, e elas são parte importante para
desenvolver mindfulness. É como aprender a escrever: no começo parece complexo,
as letras saem tortas e aprendemos uma palavra por vez. Mas, conforme vamos à
escola e treinamos todos os dias, vamos aprendendo novas palavras e melhorando
nossa caligrafia. Depois de algum tempo, temos a habilidade para ler e escrever
frases sempre que for preciso em nosso dia - desde ler o rótulo de um produto
no supermercado até escrever e-mails em nosso trabalho. Isso acontece com
mindfulness: aprendemos as técnicas novas em cada sessão e, conforme vamos
praticando diariamente, vamos desenvolvendo essa habilidade para que esteja
disponível para ser usada a qualquer momento do dia, sempre que precisarmos.
No programa MBSR, você
recebe todo o material de que precisa para realizar as atividades diárias. Após
cada aula, é fornecido um material didático de apoio e os áudios de prática
para a semana. Além das técnicas baseadas em mindfulness, também aprendemos
outras ferramentas que ajudam a trazer consciência para as atividades e
momentos do nosso dia.
4. Dia de Prática ou Dia
do Silêncio:
Entre a sexta e a sétima aula,
um programa MBSR original possui uma sessão chamada Dia de Prática. Esta é uma
aula especial em que os participantes passam um dia inteiro praticando
mindfulness em silêncio - sem celular, redes sociais, televisão e leituras, sem
conversas e tarefas habituais. Durante a sessão, praticam-se todas as técnicas
como forma de aprofundar o aprendizado, desenvolvendo consciência sobre
hábitos, padrões mentais e de comportamento.
E o que acontece depois?
A intenção é que, ao longo
das 8 semanas de curso, você tenha desenvolvido um novo hábito, integrando
mindfulness na sua rotina. É esperado que você tenha desenvolvido essa
habilidade para usar em todos os momentos da sua vida.
O material que você recebe
durante o curso ficará com você para relembrar os conteúdos sempre que
precisar. Além disso, há materiais complementares, áudios e convites para
participar de atividades que contribuem para a manutenção e aprimoramento da
sua prática.
Fonte:
https://eumindful.com/conteudo/mbsr
Mindfullness: A
importância na saúde e no bem-estar
A prática de mindfulness se tornou parte da medicina
comportamental a partir dos programas de redução de estresse de Kabat-Zinn de
1982. Com sua origem nas práticas orientais de meditação, esse conceito
desencadeou o interesse de clínicos fora da área da medicina comportamental.
Kabat-Zinn define mindfulness como uma forma específica de atenção
plena que envolve concentração no momento atual, intencional e sem julgamento.
Com isso, essa prática envolve o indivíduo de maneira biopsicossocial,
abarcando manejos de meditação que buscam o equilíbrio do organismo de forma
integral.
Diante das exigências do mundo moderno, distanciamo-nos da habilidade inata de
concentração devido ao bombardeio de informações e distrações do cenário atual.
Acalmar a mente, tomar decisões e manter o foco no que se vive agora são
atitudes cada vez menos exploradas no dia a dia. Os diversos benefícios dessa
aplicação são comprovados pela neurociência e por milhares de praticantes em
todo o mundo, com destaque para o aperfeiçoamento de produtividade, foco e
criatividade, bem como para a inteligência emocional, a redução de estresse e
ansiedade, a melhoria da imunidade e dos processos fisiológicos e, ainda, o
bem-estar físico.
Cada vez mais estudos avaliam o impacto do mindfulness sobre fatores
relacionados à saúde e ao estilo de vida, incluindo comportamentos alimentares
prejudiciais (como padrões irregulares de alimentação e alimentação emocional)
e controle do peso corporal. O ato de comer de forma consciente significa
atenção no momento de se alimentar, ou seja, manter o foco nos atributos
sensoriais dos alimentos (como cheiro, sabor, aroma e textura), reconhecendo
respostas fisiológicas subjetivas e prestando atenção aos sinais de saciedade.
Um estudo de revisão, que incluiu 21 estudos de intervenções baseadas na
prática de mindfulness, com o objetivo de alterar os comportamentos alimentares
relacionados à obesidade, verificou que 86% dos estudos analisados sugeriram
melhora no comportamento, na ingestão alimentar e no peso corporal.
REFERÊNCIAS
EBERTH, J; SEDLMEIER, P. The Effects of Mindfulness Meditation: A
Meta-Analysis. Mindfullness, v. 3, n. 3, p. 174-189, Sep. 2012.
OLSON, KL; EMERY, CF. Mindfulness and weight loss: A systematic review.
Psychosomatic Medicine, v. 77, n. 1, p. 59-67, Jan. 2015.
O’REILLY, GA et al. Mindfulness-based interventions for obesity-related eating
behaviours: a literature review. Obesity
Reviews, v.15, n. 6, p. 453-461, Mar. 2014.
VANDENBERGHE, L; SOUZA, A. Mindfulness nas terapias cognitivas e
comportamentais. Rev. Bras. Ter. Cogn., Rio de Janeiro, v.2, n.1, p.
35-44, jun. 2006.
Fonte: https://nutricaoesteticabrasil.com.br/mindfullness-importancia-saude/
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