O QUE É A PSICOARQUITETURA ( E COMO APLICÁ-LA EM PROJETOS RESIDENCIAIS)

 


Ceramista Ysabela Molini criou espaço para os filhos com estante de bambu, escrivaninha e objetos pessoais, como forma de trazer a leveza do Caribe para o novo apartamento em Nova York  — Foto:  Victor Stonem/Divulgação

Ceramista Ysabela Molini criou espaço para os filhos com estante de bambu, escrivaninha e objetos pessoais, como forma de trazer a leveza do Caribe para o novo apartamento em Nova York — Foto: Victor Stonem/Divulgação

O que é psicoarquitetura (e como aplicá-la em projetos residenciais)

A união da psicologia com a arquitetura pode melhorar a identificação do morador com o lar e aumentar a qualidade de vida


Por Jonathan Pereira (@jonathanpereira_82)

 

Morar em um local em que você se identifique e obtenha um bem estar maior no dia a dia é um conceito que vem ganhando cada vez mais força. Utilizando técnicas de psicologia e arquitetura, o conceito de psicoarquitetura surgiu para auxiliar arquitetos a conhecer melhor seus clientes e deixarem os projetos com o estilo deles, aumentando a satisfação com o resultado final dos projetos.

A arquiteta e urbanista Giovanna Gogosz - criadora do primeiro curso de extensão de Psicoarquitetura reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) - explica em entrevista à Casa Vogue o que a levou a, junto da melhor amiga e psicóloga Cecília Peres, desenvolver uma grade curricular sobre o tema, para profissionais que queiram se aprofundar no assunto.

Depois de ouvir os desejos do cliente, projeto do escritório Um Design Studio teve mesa de jantar especialmente desenhada para o espaço — Foto: Israel Gollino/Divulgação

Depois de ouvir os desejos do cliente, projeto do escritório Um Design Studio teve mesa de jantar especialmente desenhada para o espaço — Foto: Israel Gollino/Divulgação

"A casa é um espaço que mexe muito com as pessoas, traz muitos traços sobre elas, tem muito a agregar na construção da identidade. A psicoarquitetura hoje é focada em entender como os espaços interferem na vida delas, tanto em termos de cura, evolução, conexão das relações humanas", conta, citando a base da psicanálise defendida por Freud, Jung e Winnicott, de que um dos grandes símbolos da esfera humana é a casa, como referência.

Como colocar em prática?

"O principal é buscar entender qual a essência e identidade da pessoa, sair da arquitetura mais plástica, das tendências e o que combina, e entender a essência humana. Assim como um psicólogo entrevista a pessoa para entender as demandas e conflitos, nós praticamos o psicobriefing, uma metodologia para entender os traços dela e trazer de maneira material para o ambiente", diz a arquiteta.

O importante é que o cliente se identifique com o ambiente projetado pelo profissional que contratou, resultando numa conexão maior e desenvolvimento de memória afetiva. "Percebemos que quem vive em espaços que se identifica passa a se desenvolver em várias áreas da vida muito melhor, tanto profissional quanto relacionamentos, ou em família, quando se trata de um espaço coletivo. Quando as pessoas não se sentem conectadas com a própria identidade, tendem a desenvolver ansiedade, depressão e até problemas psíquicos mais graves", defende.

Ceramista Ysabela Molini criou espaço para os filhos com estante de bambu, escrivaninha e objetos pessoais, como forma de trazer a leveza do Caribe para o novo apartamento em Nova York  — Foto:  Victor Stonem/Divulgação

Ceramista Ysabela Molini criou espaço para os filhos com estante de bambu, escrivaninha e objetos pessoais, como forma de trazer a leveza do Caribe para o novo apartamento em Nova York — Foto: Victor Stonem/Divulgação

Giovanna dá um exemplo prático. "Imagina você fazer um projeto para sua melhor amiga, ou decorar a festa de aniversário dela. Você conhecendo a pessoa, sabe o que vai realmente agradar. Ela vai dizer 'é a minha cara' e vai trazer felicidade".

Quem mora em casa alugada também pode fazer as mudanças para conseguir bem estar. "Trazemos muito a questão da identidade com a decoração. "Quadrosalmofadastapetes, estampas que representem a pessoa, é fácil aplicar. E a pintura, depois dá para reverter, quando for entregar o imóvel".

Projeto do arquiteto Renato Mendonça para terraço dos irmãos Renier e Jéssica, que queriam referências a Mykonos, na Grécia, e elementos que lembrassem sua história no Cariri (CE)  — Foto: Reprodução/Instagram @renatomendonca

Projeto do arquiteto Renato Mendonça para terraço dos irmãos Renier e Jéssica, que queriam referências a Mykonos, na Grécia, e elementos que lembrassem sua história no Cariri (CE) — Foto: Reprodução/Instagram @renatomendonca

Ela conta que, embora já gostasse do tema, não encontrava algo voltado para isso e decidiu se aprofundar. "Acho que muitos arquitetos têm esse lado de querer trazer algo humano, mas eu não encontrava um nome para isso, uma metodologia, parecia só um jeito meu de querer fazer as coisas com mais significado"

Mesmo fazendo uma pós-graduação em neurociência para arquitetura, Giovanna ainda sentia falta de algo que se aprofundasse em personalidade, identidade e conexão. "Quando fiz terapia, gostei do processo e comecei a me entender em muita coisa. Buscava cursos na área, não existiam, comecei a estudar por conta própria coisas da psicologia e trazer para esse universo. Fui me aprofundando, buscava essas práticas junto aos clientes e eles davam feedbacks muito bons".


Fonte:https://casavogue.globo.com/arquitetura/noticia/2022/12/o-que-e-psicoarquitetura.ghtml

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